BUJÕES E A SUA HISTÓRIA - DESDE 1191 ATÉ AO SÉCULO XXI

Esta página será dedicada ao registo histórico e cronológico dos factos mais relevantes respeitantes ao passado de BUJÕES, fazendo-se referência específica a alguns personagens e famílias que marcaram a sua existência através dos séculos.

Simples aldeia perdida no meio das ondulações de montanhas que marcam os horizontes que a aproximam do Douro,  mas olhando de frente o Marão, serra altaneira que todos os fins de dia lhe esconde o sol  e a protege dos ventos marítimos, BUJÕES prossegue com serenidade o seu caminho, progredindo lentamente, mas enfrentando o futuro com a mesma singeleza de sempre, com o mesmo apego às suas raízes, ao esforço vigoroso dos seus naturais, alicerçados no exemplo marcante dos queridos antepassados que lhe moldaram os caminhos e as memórias.

Vamos deste modo salientar os factos mais significativos da sua história, sem esquecer a simplicidade que consubstancia a referência ao surgimento de uma família, de um personagem, ou mesmo de algum facto curioso ou intrigante. Mesmo que, por hipótese, algum facto ainda permaneça vivo na memória de algum bujoense mais idoso, isso não invalida que os mais jovens que agora dispõem de Internet possam constatar nesta memória escrita, síntese factual da história singular de Bujões, povoado tão pequenino e perdido no meio dos montes, sempre acontecia algo que quebrava a rotina e modificava os rumos, deixando memória para os vindouros.

Mergulhemos, então, na síntese histórica de Bujões e nas gentes que ali nasceram ou por ali passaram...




                 23 de MARÇO de 1191

D. Sancho I, rei de Portugal, concede Foral a 12 povoadores de Bujões
 
Eis a transcrição do documento respeitante ao Foral de Buianos (Bujões), cujo original foi escrito em latim:

" Em nome de Deus. Eu, Rei Sancho, com a minha esposa, Dona Dulce, foi-nos grato fazer carta de foro da vila de Buianos (Bujões) a doze homens, com os seus termos assim definidos: começa com o termo de Abaças, pela Pedra Meigengeira e dali com Fontelo, pelo marco, e vai a Eisudo, desce à água, a sopé, e dirige-se para Bragadas e vai pelos lombos de Calvelo e dirige-se ao marco e parte com o termo de Vila Seca e vai à cabeça de Vale de Égua e dirige-se para onde antes começámos. Damos-vos e concedemos-vos a vós, povoadores, quanto temos em todos estes termos. Concedo-vos esta dita herdade na condição de que, anualmente, nos deis, ou ao nosso vigário, o foro seguinte: cada um seu quartário de trigo e três quartários de pão de segunda e cada um seu moio de vinho: para a coleta, cada um seu pão de meio almude e cada um sua pele de coelho, quanto a carne; e cada um seu almude de vinho. E concedemos a estes povoadores os foros das calúnias de furto, rousso e homicídio. O vigário que tiver a vila não pague renda nesse ano. Entre si, a fiadoria será de uma cera pelo furto; se não se poder ilibar, restitua no dobro a quem furtou e dê a sétima parte ao palácio. 
Se o rousso tiver  inquérito da verdade, pague-se. Quem matar um homem e houver inquérito de verdade, for o caso de apostilha, pague e dê de fiador sobre um terço da coima e não mais. Quem quiser vender esta herdade, venda-a depois de três anos, a morador que satisfaça o foro. A jugada pague-se pela taleiga e quarta de Galafura. Vão á carreira e ao apelido, se regressarem no mesmo dia a suas casas. Quanto a caça, o lombo do veado e as mãos do urso. Quem se portar aí incorretamente pague uma cera como fiança e seja excluído como vizinho, pelo concelho da vila, até se portar bem. Se o que tem a vila não vier receber a renda estabelecida na carta, culpando-se, perde-a. É este o foro referido e nada mais. Quem se portar nesta vila, que é do rei, de modo diferente do que fica estabelecido, pague quinhentos soldos. Carta de foro feita no dia dez das calendas de Abril de 1229 ( 23 de Março de 1191 da era atual).
Martinho, Arcebispo da Igreja Bracarense; o arcediago Pelágio de Sande; o príncipe de Panóias , Rodrigo Menendi; o Juiz Pelágio de Murça.
Eu, Rei D. Sancho, juntamente com minha esposa, confirmo e roboro esta escritura.
E quem tentar infringir este nosso facto seja maldito e excomungado e tenha sociedade com o traidor Judas. E esta carta seja para sempre estável, com o seu foro, que aqui fica escrito e não mais. O porteiro não ouse entrar na vossa vila por causa de qualquer foro.
Martinho Fernandi, mordomo da Cúria, confirma; João Fernandi, responsável pela mesa do Senhor Rei, confirma; Pedro Gomes é testemunha; Pedro Menendi ts., D. Osório ts., Juliano, chanceler da Cúria, confirma; João notou."





                                          ANO DE 1258

Inicio das Inquirições Gerais - Rei D. Afonso III
Audição de habitantes de Bujões







Capa e páginas do livro 5 e 7 das Inquirições Gerais iniciadas em 1258 no tempo do Rei D. Afonso III (Cofre da Torre do Tombo)

No decurso das Inquirições Gerais, foram ouvidos vários habitantes de Abaças, Vilarinho, Fontelo e Bujões, e de outros locais cerca, para se pronunciarem sobre vários assuntos, designadamente a quem pertencia a Igreja de S. Pedro e determinadas propriedades.
Ficámos desse modo a conhecer os nomes de dois habitantes de Bujões daquela época, então ouvidos. Em Bujões não havia qualquer assunto objeto de disputa, contrariamente ao que acontecia em outros locais, como por exemplo Vilarinho onde foi morto o Juiz Gonçalouinho que revindicava para o Rei parte das terras.
Eis os primeiros nomes conhecidos de bujoenses, cerca de 1258. 

IOHANIS PELÁGIO e
PETRI ARIAS


 
              1 de Novembro de 1304

D. DINIS, rei de Portugal,  demanda os povoadores de Bujões.
 ( teor e transcrição da carta de intimação e confirmação de Foral)

 
 "Dom Dinis pela graça de Deus Rei de Portugal e do Algarve.
A quantos esta carta virem faço saber que na minha Corte há queixume do meu procurador que fez citar em meu nome os povoadores da aldeia de Buiãaos (Bujões) pela razão que esse meu procurador dizia que esses povoadores não me davam compridamente os foros que me haviam de dar dessa terra. E o dia em que lhes foi assinado, os ditos povoadores vieram perante a minha corte por Domingos Garcia seu procurador avondoso por uma procuração que eu vi, e o meu procurador lhes fez a sobredita demanda. E o procurador deles dizia que me davam os ditos foros como estava contido numa carta de foro que eu emitira e que diziam ser falsa, não devendo valer, pois não tinha selo, nem fazia outra fé verdadeira ...
... Convém saber que os ditos povoadores e seus sucessores da dita aldeia de Buiãaos hajam a dita terra para todo o sempre, assim como antes havia e que eles deêm a mim a cada ano e a todos os meus sucessores todos os foros dobrados que são indicados na dita carta, cujo teor é:
" Em nome de Deus. Esta é a carta de foro que o Rei D. Sancho, mandou fazer à vila de Buiaãos que tem doze homens nos seus limites que se iniciam em Abaças... e ainda com Fontelo... Vila Seca...
Os ditos procuradores louvaram e outorgaram esta composição pagando-se o pão por Santa Maria em Agosto e o vinho por São Miguel. E pediram á minha Corte que assim o desse em juízo e a dita minha Corte assim o deu em juízo. Em testemunha desta causa dei aos sobreditos moradores de Buiãaos esta carta selada do meu selo. Dada em Santarém no primeiro de Novembro. El-rei a mandou por Afonso Anes seu clérigo. Martim Lourenço a fez. Era de mil, trezentos e quarenta e dois (ano de 1.304)



29 de Junho de 1593
5 de Janeiro de 1594
9 de Janeiro de 1594

Duas MARIAS  nos primeiros registos paroquiais legíveis de Bujões e um casamento para a história.

Por decisão do Concilio de Trento, realizado de 1545 a 1563, a Igreja passou a fazer registo dos nascimentos, casamentos  e óbitos daqueles que professassem a religião católica.
Essa decisão levou tempo a chegar às pequenas paróquias do interior e em Abaças iniciou-se no ano de 1593. Os registos paroquiais existem e nem todos estão em muito mau estado, mas muitos deles são de difícil leitura. É provável que exista algum registo antes destas datas relativo a Bujões, mas estes são os primeiros três registos legíveis e, curiosamente, envolvem 3 Marias...
 
-Maria, filha de Bastian Rodriguez e Maria Rodriguez , nasceu em 29 de Junho de 1593.
-Maria Lopes, viúva, faleceu em 5 de Janeiro de 1594.
-Gonçalo Roiz, casa com Cecília Lopes em 9 de Janeiro de 1594




9 de JANEIRO de 1594 

 SURGE A FAMÍLIA BARBOSA DE BUJÕES
O documento acima transcrito, recentemente localizado e que irá fazer parte da documentação que constará da página sobre a família BARBOSA, quase terminada, comprova que os BARBOSA não tiveram a sua origem no PORTO, mas sim que partiram de Bujões para aquela cidade onde se dedicaram aos negócios e regressaram a Bujões, Canelas, Vila Seca e Vila Real onde eram donos de bastas terras, mas nem tudo correu bem, como nessa página veremos. 
Gonçalo Rodrigues Barbosa, este o nome completo do noivo, que casou com a bujoense Cecília Lopes, é considerado o patriarca da família e para remissão dos seus pecados e de sua mulher mandou erigir em Bujões uma Capela no limite das suas terras, confinantes com o Largo do Seixo, como adiante exibiremos documentação comprovativa. Deste casal, que viveu na Rua da Lada, na ribeira do Porto, apenas localizámos dois filhos, um deles, Juseph Roiz Barbosa  nomeado herdeiro do pai e que foi influente no crescimento da família Barbosa. 



4 de NOVEMBRO de 1618

Novo casamento da família BARBOSA (o noivo do Porto)


Em 4 de Novembro de 1618, JUSEPH ROIZ BARBOSA (José Rodrigues Barbosa), natural do Porto, filho de Gonçalo Rodrigues Barbosa e Cecília Lopes, casa em Bujões com MARIA PEREIRA. Deste matrimónio viria a resultar uma família numerosa, fortalecendo um apelido que se manterá pelos séculos seguintes, até hoje. Os Barbosa estiveram na origem de diversos acontecimentos que marcaram a aldeia, dada a importância que esta família tinha no contexto daquela época, não só por possuir muitas terras, como por demonstrar fervor religioso ao ponto de mandar erigir uma Capela que se manteve mais de 200 anos e onde estava colocada a relíquia de S. Clemente.  
 




20 de Outubro de 1626
 Instituição da Capela da Virgem Nossa Senhora da Conceição em Bujões.

A pedido de GONÇALO RODRIGUES BARBOSA, viúvo de CECÍLIA LOPES, pai de JOSÉ RODRIGUES BARBOSA,  foi elaborado documento notarial instituindo a Capela de Nossa Senhora da Conceição, no Largo do Seixo, em Bujões. Era a Capela da família Barbosa, tendo como Administrador o dito José Rodrigues Barbosa e seus herdeiros. A Cortinha ficava como propriedade afeta à Capela sendo-lhe destinado, se necessário, o rendimento para a sua subsistência futura.



 

 




Quatro páginas com a escritura de instituição da Capela de Nossa Senhora da Conceição,em Bujões, cuja transcrição se segue abaixo:
 

 



 
 

 
 
 
28 de Setembro de 1635
 
Foi sepultado na sua Capela de Buianus (Bujões) GONÇALO ROIZ BARBOSA.



Conforme consta do registo acima, GONÇALO ROIZ BARBOSA fez manda por escrito nomeando seu herdeiro o filho JUSEPH ROIZ BARBOZA (José Rodrigues Barbosa).

Tudo aponta para que Gonçalo Roiz Barbosa fosse comerciante na zona da Ribeira no Porto. Regressado da cidade do Porto, regressou à sua terra natal, Bujões, onde havia casado com Cecília Lopes, sendo dono de casas e propriedades. Com ele se deu início á família dos Barbosa, pois esse apelido existia já noutros locais em redor, inclusive com membros desta família vindos também da capital do norte.

 
 
 17 de Fevereiro de 1637
Nasce em Bujões, João, filho de Maria, preta, escrava de Joseph Roiz Barboza.

Alguém imaginaria que em Bujões, no ano de 1637, nasceria uma criança, um menino, filho de uma mulher negra, escrava? ... De facto, estava-se nessa altura muito longe ainda da abolição da escravatura…
Não existe qualquer referência sobre quem teria sido o pai do João, nem o que lhe sucedeu, embora exista um documento em que se deduz que  ele passou a "pertencer" ao capitão Manuel Pereira Barbosa, filho de Josep Roiz Barbosa.
 

 
16 de Agosto de 1667
Testamento de Manuel Roiz Barbosa (Manuel Rodrigues Barbosa)
 
Neste testamento este membro da família Barbosa, que tinha quinta em Canelas e terras em outros locais, deixava uma missa perpétua a celebrar todos os domingos (dia santo)  na Capela de Santo Amaro, por intenção de sua alma e da mulher. Ou seja, em 1667 já existia a Capela de Santo Amaro e era vulgar deixar em testamento que fossem rezadas muitas missas por alma, até porque quem escrevia o testamento eram os párocos das Igrejas e havia que cuidar também, além da alma de quem não dispensava o testamento, a ajuda à própria Igreja, até porque nessa época havia muitos padres sendo normal celebrarem-se missas com a presença de 20 ou 30  ao mesmo tempo. 
 
 
Página 1 do testamento de Manuel Roiz Barbosa

Folha 2 do testamento de Manuel Roiz Barbosa

               Transcrição  (possível) do testamento de Manuel Roiz Barbosa

 


 
17 de DEZEMBRO DE 1674
O TESTAMENTO DE LEONARDA BAPTISTA BARBOSA, nascida em Bujões em 13/6/1634.
 
Neste documento, com alguma dificuldade de transcrição, LEONARDA BAPTISTA, solteira, irmã do capitão MANUEL PEREIRA BARBOSA, institui este seu irmão como seu herdeiro e deixa perceber que não lhe davam autorização para acender as luzes (com azeite) na Capela de Nossa Senhora da Conceição e, sendo assim, ficaria tal tarefa destinada á ermida de NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO E DE SANTO AMARO.
Por este documento fica uma vez mais confirmada a existência da Capela ou ermida de Nossa Senhora do Rosário e de Santo Amaro, vindo este a figurar como padroeiro de Bujões.
Tudo leva a crer que a Capela ou ermida de Santo Amaro já existia muito anos antes, talvez por volta do ano de 1500, muito embora todas as cerimónias decorressem sempre em Abaças, na Igreja de S. Pedro, com exceção de alguns funerais, alguns séculos mais tarde, em que os corpos eram sepultados no chão da própria Capela, intitulada também como Capela do Povo.
 


          Testamento de Leonarda Baptista Barbosa, filha de José Roiz Barbosa,  
e respectiva transcrição abaixo :


 
 
 
19 DE JUNHO DE 1680
O GRANDE TESTAMENTO DO CAPITÃO MANUEL PEREIRA BARBOSA
 
Manuel Pereira Barbosa, nasceu em Bujões em 16 de Novembro de 1623 e alcançou o posto de Capitão de Cavalaria,  servindo no Regimento de Bragança. Tudo leva a crer que tenha morrido solteiro, mas foi pai de alguns filhos e filhas, entre as quais Bernarda, nascida em Bujões em 11/12/1651, filha de Anna,natural de Bragança, solteira,  que o indicou como sendo pai de sua filha.
 
 
 

Registo de baptismo de Bernarda. Curiosamente, foi padrinho António Botelho, de Galafura.

 
 
Contudo,  Manuel Pereira Barbosa, Capitão de Cavalos, deixou a maioria dos seus bens a duas filhas, nada se sabendo de Bernarda e de sua mãe Anna. Talvez uma aventura amorosa que não passou disso mesmo e que era fruta da época, em que decorria a guerra pela restauração de Portugal.
É sem qualquer dúvida um dos bujoenses que mais se distinguiu na história da nossa pequena aldeia. Ele era dono de muitas terras, quer em Bujões, quer noutros locais. Conjuntamente com o seu sobrinho, o Padre António Barbosa, aparentam ser os membros mais influentes da família Barbosa, daqueles tempos.
O Capitão Barbosa distinguiu-se nas lutas contra Castela (Espanha) uma vez que em 1640 terminou o domínio filipino sobre Portugal e seguiram-se muitas incursões do exército espanhol com intuito de recuperar a soberania sobre o nosso país. Contudo, graças à bravura de muitos portugueses, entre os quais o Capitão Manuel Pereira Barbosa,  nunca mais Portugal perdeu a sua independência. Também internamente houve lutas fratricidas entre membros da nobreza e não custa admitir que o Capitão Barbosa tivesse também lutado nesses confrontos.
É, todavia, muito forte a possibilidade de o Capitão Barbosa ter estado na Batalha de Montes Claros, no Alentejo, em 17 de Junho de 1665, assim descrita:
"Preparam-se os espanhóis para um ataque que tudo levasse de vencida, mas por seu lado os governantes portugueses tomaram todas as cautelas e providências indispensáveis para a defesa do reino. Calculando que a tentativa de invasão seria feita através das fronteiras do Sul, isto é pelo Alentejo, foi nessa província que se tomaram as maiores precauções. Três mil e quinhentos homens foram sem demora enviados de Trás-os-Montes, constituindo quatro terços de infantaria e catorze companhias de cavalarias "
No seu testamento, que é o mais extenso respeitante a um bujoense, pode ver-se a quantidade de terras que possuía, algumas das quais ainda hoje são conhecidas pelo mesmo nome de então, como é o caso da CORTINHA, por Cima da Fonte, e  muitas outras. A desconfiança que lhe causava o sobrinho, Belchior Pereira, apesar deste ter remediado as traições que havia feito com a sua prima Paula,  que era filha do Capitão, amargaram-lhe a vida.  Ou seja, o sobrinho Belchior parece que se adiantou no serviço e depois não quis assumir o que fez à prima Paula, esquecendo-se que o Capitão não era para brincadeiras!
O capitão Manuel Pereira Barbosa tinha criada, de nome Maria de Araújo, a quem contemplou no testamento.
Deixou muitos bens à filha Paula, mas  nomeou sua herdeira universal a filha Maria Pereira Barbosa, manifestando sempre desconfiança no sobrinho Belchior  Pereira, escrevendo mesmo no testamento " parece que o estou vendo em maiores traições do que as passadas, ou impedindo a herança à dita minha filha Maria Pereira, ou vendo-me falecido, deixar de casar com a sua prima Paula, minha filha. Se tal suceder, deixo-o deserdado de todos os meus bens... porque tudo me custou o meu dinheiro no tempo da guerra..."
 
Esta frase, de que tudo lhe custou o seu dinheiro no tempo da guerra, é prova evidente que a sua vida militar não foi pacífica, pois entrou como soldado e chegou ao posto de Capitão. Ele mesmo alega que a sua intervenção na guerra serviu para aumentar os seus pertences, embora também tivesse herdado os bens de sua irmã LEONARDA. E quanto ao sobrinho Belchior não quis saber das promessas de que casaria com a filha Paula, sua prima, e filha do Capitão, e casou antes com Ana Peres,de Vila Seca de Poiares. 
 
 
 
 


A primeira e a última página das nove que compoem o testamento  
 de MANUEL PEREIRA BARBOSA 
 
 
 
Segue-se a transcrição
 
 

Este inicio da transcrição permite desde logo concluir o seguinte:
 
O testamento foi feito pela própria mão do Capitão Manuel Pereira  Barbosa, e aprovado pelo escrivão da Vila e Honra de Galegos.
 
O testamento anda junto a uns autos que se processaram em a Relação do Porto, entre partes: LUÍS DA SILVA e JOÃO DE FIGUEIREDO.
Nota: Luís da Silva é Luís da Silva Barbosa, primo do Capitão e João de Figueiredo é o marido da filha do Capitão, Maria Pereira Barbosa.
 
O testamento foi  primeiramente escrito em Bujões, na casa do Capitão, que diz encontrar-se valente e bem disposto, sem por agora ter queixa de males que o molestem.

Houve disputa judicial dos bens do Capitão, sendo partes Luís da Silva Barbosa e João de Figueiredo, decorrendo o processo no Tribunal dos Privilegiados da Relação do Porto, tudo levando a crer  que as filhas do Capitão perderam.








 

 
 
5 DE MARÇO DE 1687
 
Morre em Bujões o Capitão Manuel Pereira Barbosa, cujo testamento atrás transcrevemos e que foi anotado no livro paroquial em 1705.
 
 



 
Registo de óbito do Capitão Manuel Pereira Barbosa


 
1 de Maio de 1710
Registo de óbito do primeiro bujoense morto em defesa da Pátria
 
"Em oprimeiro dia domes demaio demil setecentos edez annos faleceo João filho de Mel, diguo de Manuel Rodriguez daazenha dolugar deBuiais desta freguesia em oalentejio na Campanha por ser soldado regio eassim nosobredito dia meveio anoticia certa da sua morte... "
 

15 de Janeiro de 1711
Casamento do filho de MARIA PEREIRA BARBOSA
 
Assinalamos esta data, não no sentido histórico, mas sim pelo significado que resulta  dos participantes na cerimónia de casamento celebrado em Bujões, embora tivesse decorrido, como era habitual, na Igreja de São Pedro, em Abaças.
Assim, JUSEPH FARREIRA BOTELHO (José Ferreira Botelho), filho de Joam de Figueiredo (João de Figueiredo) e de sua mulher Maria Pereira Barbosa, casou com MARIA LIANOR BOTELHO DA FONSEQUA (Maria Leonor Botelho da Fonseca), filha de Manuel Ribeiro de Figueiredo e de sua mulher Maria Botelho da Fonsequa, da freguesia de São Dionísio (São Dinis) de Vila Real.
Não deixa de ser curioso que um filho da herdeira do Capitão Manuel Pereira Barbosa, sua filha Maria Pereira Barbosa, tenha sido anotado com apelidos que nada tinham a ver com os de seus pais (Figueiredo e Barbosa). Esta ligação à família Botelho da Fonsequa, de São Dionisio, Vila Real, não será estranha ao que, anos mais tarde, viria a resultar com o surgimento em Bujões de outros protagonistas ligados aos membros das famílias Barbosa e  Botelho, daquela cidade.
Daqui resulta que o rigor histórico pode ser traído por esta aglutinação imprevista de apelidos, tornando difícil obter a identificação de todos os membros de uma determinada árvore genealógica. Uma coisa é certa, Botelhos e Barbosas, Combas, Figueiredos, etc., andam ligados há vários séculos!
 
(ver documento)
 
 
 
Ano de 1720
Registo de capítulos e visitações.
Documento em que se refere a existência de um legado de missa semanal na Capela de Santo Amaro e em que se ordena o seu cumprimento, referindo-se, igualmente, a Capela de Nossa Senhora da Conceição. Este é o primeiro documento, datado de 1720, em que as duas Capelas são referidas simultaneamente:


"CONSTOU-ME que na Capela de SANTO AMARO do lugar de BUJÃOS,
há um legado de missa semanária...", assim começa o documento
 
Esta missa reportar-se-á ou ao testamento de Manuel Roiz Barbosa ou ao do Capitão Manuel Pereira Barbosa , acima transcritos, em que deixam em legado missas anuais perpétuas por suas almas, afetando terras para realizar dinheiro para que fossem ditas, mas a sua determinação não estava a ser cumprida pelos herdeiros, o que é normal, pois havia divergências e estes casos não deixavam de ser uma forma de o pároco da Igreja de Abaças aumentar os seus proventos.
Chegou-se ao ponto de deixar disposições em testamento, de 300, 400 e até 800 missas, rezadas de uma só vez... Era assim naqueles tempos e haverá que respeitar, porque ninguém queria ir para o inferno...
 
 

 25 de Janeiro de 1740
 Nesta data, nasceu  JOAQUIM, filho de Luiz da Silva e Teresa Caetana , de Vila Real.
 
Não existem dados seguros sobre em que local nasceu Joaquim, mas tudo indica que terá sido em Bujões. Passaria à história como sendo JOAQUIM JOSÉ DA SILVA DE BARBOSA E SOUSA, filho do Capitão Luís da Silva Barbosa e de Teresa Caetana Borges Ferreira.
Os factos principais que podemos adiantar sobre a sua vida são os seguintes:
a) Desempenhou a função de escrivão da Camara Municipal de Vila Real.
b) Foi nomeado Cavaleiro da Ordem de Cristo, nomeação essa somente destinada a pessoas de estatuto social, carácter e de fortes convicções religiosas (fé católica).
c) Foi Administrador da Capela de Nossa Senhora da Conceição em Bujões.
d) Viria a casar em Vila Real, em 18/3/1775, com Ana Bárbara Narciza Botelho de Queiroz e Melo de Lucena (Ver página sobre  OS BOTELHO)

Seguem-se documentos comprovativos :



Documento do ano de 1791, manuscrito por Joaquim José da Silva Barbosa e Sousa (páginas 1 e 4) onde consta a assinatura de quem transcreveu a provisão real (do tempo da Rainha D. Maria I). Documento que faz parte do acervo do Municipio de Vila Real.



Documentos de 1774, do reinado de Don José,  que fazem parte do processo de candiadatura e anuência ao cargo de Cavaleiro da Ordem de Cristo em nome de José Joaquim da Silva de Barbosa e Sousa.
 
 
 
1 de Novembro de 1755
Terramoto de Lisboa
 
O dia de sábado 1 de Novembro do ano da graça de 1755, dia de Todos os Santos, amanheceu soalheiro, temperatura amena para um final de Outono e vento fresco correndo sobre a cidade. Às nove e quarenta e cinco da manhã, a terra tremeu entre seis e sete minutos, arrasando grande parte da edificação, sobretudo nas zonas mais antigas e a frente ribeirinha. Seguiu-se uma réplica de menor intensidade e, hora e meia depois do primeiro abalo, nova calamidade se verifica, de início com uma forte terceira réplica e, logo a seguir, com um maremoto, com as águas do Tejo a recuar.Vinda do Bugio, cujo farol quase submergiu, uma gigantesca onda (um tsunami de 6 metros de altura) galgou a terra e invadiu o que restava da cidade desmoronada, lançando nova vaga de destruição e levando consigo muitos dos que tinham buscado a vida junto à água.

 
Felizmente, em Bujões, e no conjunto da freguesia de Abaças, não se registou qualquer dano deste terrível terramoto que ceifou milhares de vidas na região de Lisboa e que foi sentido em todo o país.
 
 
23 de ABRIL de 1758
MEMÓRIAS PAROQUIAIS da FREGUESIA DE ABAÇAS
 
Após o terramoto de 1755, foram visitadas todas as paróquias do país, com intuito de se inventariarem prejuízos ocasionados pelo terramoto e, sobretudo determinar o que de mais importante existia em cada uma das paroquias. Sob a supervisão do Padre Luís Cardoso foi levada a cabo essa tarefa, existindo um inquérito constituído por diversas perguntas, tendo estado para esse efeito na paróquia de Abaças o Coadjutor Padre António dos Santos. Bujões era então referido como sendo Bojamos!
Não havia prejuízos do terramoto nem nada de importante a assinalar, com excepção do relato de um roubo à Igreja de São Pedro, em 23 de Dezembro de 1757 , tendo os ladrões arrancado onze fechaduras!
Os documentos e transcrição constam em seguida:





 











 
 8 de NOVEMBRO de 1769
Provisão(licença) para colocação de dois  confessionários na Capela de N.S. da Conceição.
Dom GASPAR, por misericórdia Divina Arcebispo e Senhor de Braga, Primaz da Hespanha, havendo respeito ao que nos representou JOAQUIM DA SILVA BARBOSA, de Vila Real, Administrador da Capela de Nossa Senhora da Conceição, sita no lugar de Bujãos (Bujões), concede licença para a colocação de dois confessionários...
Ou seja, em 1769, a família Barbosa requereu licença para que na sua Capela houvesse condições para que os seus familiares e demais população confessassem os seus pecados em Bujões e não em Abaças, mas sem prejuízo dos direitos paroquiais.
Todavia, o povo mais humilde de Bujões, continuava a frequentar a Capela de Santo Amaro, e iria também, anos mais tarde,  requerer idêntica licença.
 
Provisão a favor de Joaqim da Silva Barbosa.
Pelo menos alguns bujoenses deixaram de  carregar os pecados de Bujões até Abaças, onde se realizavam as confissões.
 
 
9 de DEZEMBRO de 1776
NASCE O MEMBRO DA FAMILIA BARBOSA QUE IRIA DAR ORIGEM AOS BOTELHO
 
INÁCIO BOTELHO DA SILVA BARBOZA, filho de Joaquim José Barbosa da Silva e Sousa e de sua mulher Dona Ana Bárbara Narciza Botelho de Queiroz e Melo, residentes na Rua das Flores na freguesia de S. Pedro-Vila Real, neto paterno de Luiz da Silva Barbosa e de sua mulher Teresa Caetana e materno de Inácio Botelho de Lucena e de sua mulher Dona Luiza Bernarda, nasceu aos 9 de Dezembro de 1776.
Figura controversa, escrivão da Camara Municipal, tal como o pai, dissiparia parte substancial dos seus bens, em Vila Real e Bujões, deixando uma herança que foi disputada na justiça e que levaria ao fim da Capela de Nossa Senhora da Conceição.
Uma sua filha iria estar na origem do destaque do apelido Botelho, que ainda hoje persiste em Bujões e outra ao apelido Barbosa. Ambas solteiras, ambas mães de 3 filhos, dois deles, de cada uma, faleceram em crianças e dos dois que sobreviveram ( um rapaz de uma e uma menina de outra, deram sequência a essas famílias de Bujões.
 
Registo de nascimento de INÁCIO. Não deixa de ser curiodso que o Padre celebrante tenha sido CRISTÓVÃO CORREIA BOTELHO!
 
 
 
23 de JUNHO de 1790
Provisão (licença) para dois confessionários na Capela do POVO (Capela de Santo Amaro)
Por iniciativa dos moradores de Bujões foi requerido ao Arcebispo de Braga, Primaz das Hespanhas, como era então considerado, licença para colocação de dois confessionários na Capela do Povo, mais conhecida por Capela de Santo Amaro. A licença foi concedida, pelo que passou a  haver em Bujões  quatro confessionários, mas com ressalva dos direitos paroquiais centrados na Igreja de S. Pedro de Abaças.
E quem era nesta altura o pároco de Abaças?
Era o Reverendo Padre DOMINGOS MOREIRA,  que teve vários filhos e que em 1777 solicitou autorização a Braga para viver na companhia de sua filha JOANA, tendo obtido a anuência do Arcebispo. Este Padre, Domingos Moreira, esteve cerca de 50 anos à frente da paróquia de Abaças.
 
Provisão a pedido do povo de Bujões (Capela do Povo). As pessoas que não frequentavam a Capela de Nossa Senhora da Conceição, confessavam-se na Capela de Santo Amaro.
 
 
2 de JUNHO de 1798
Nasce em Bujões, DOMINGOS, que passaria à história como PADRE DOMINGOS RIBEIRO DE ARAÚJO
 
Filho de Manuel António Ribeiro e de Ana Maria, que casaram em Bujões em 8/8/1796, neto pela parte paterna de João Ribeiro e Joana Rodrigues, estes do lugar de Vessadios e pela parte materna de João Vilela e Mariana Rodrigues Vilela, estes do lugar de Vilarinho, nasceu em 2 de Junho de 1798, em Bujões, aquele que viria a ser o Padre Domingos Ribeiro de Araújo e cuja vida é digna de um romance.
Formou-se em Braga e não exerceu em qualquer paróquia. Foi capelão na Presegueda em casa de Dª Delfina Leonor Pereira de Mesquita e Castro, falecida em 12/2/1849.
O padre Domingos Ribeiro de Araújo apaixonou-se por MARIA DOS REMÉDIOS, filha de Dona ANTÓNIA TELLES, de Sabrosa e de um membro da família CANAVARRO, também de Sabrosa. Maria dos Remédios encontrava-se na Presegueda na chamada CASA GRANDE, que ainda hoje existe, em casa do irmão de Dª ANTÓNIA, Affonso Botelho. Ela foi colocada na RODA DA IGREJA DE CANELAS, por ser filha ilegítima de um membro de uma das familias  mais prestigiadas de Sabrosa, que  era casado. O escândalo foi ocultado dessa forma, circunstância infeliz que era muito vulgar naquela época e  que abrangia todas as classes sociais, e muito mais os poderosos.
O Padre Domingos  e Maria dos Remédios são pais de :
Filomena que nasceu em 4/7/1847
Maria de Jesus, que nasceu em 12/3/1849
José Dionísio, que nasceu em 9/10/1852
Teresa Angélica, que nasceu em 15/11/1854
Elvira da Natividade, que nasceu em 21/10/1863
Na página deste blogue  com o título: RIBEIRO DE ARAÚJO E COMBAS OS ENIGMAS E O ROMANCE destacamos todos os elementos essenciais desta história marcante da nossa aldeia.
O Padre Domingos Ribeiro de Araújo faleceu em Bujões em 9/5/1876, deixando um testamento em que divide os seus bens pelos filhos e determina que a mãe (Maria dos Remédios) tem o direito de viver nas suas casas de Bujões, que foram herdadas por José Dionísio, bem como duas das filhas, enquanto solteiras. A chamada Casa do Sr. Araújo foi o local onde essa família deixou marcas.
 



TESTAMENTO DO PADRE DOMINGOS RIBEIRO DE ARAÚJO
 
 
 
 
25 de Outubro de 1798
Nasce em Bujões Manuel Rodrigues Cachaça
 
Quando nasceu em Bujões  aos 25 de Outubro de 1798, mal imaginaria Manuel Rodrigues Cachaça que alguém, um dia, iria lembrar três coisas importantes acerca da sua vida:
 
1º Que viria a casar em Bujões com Magdalena de Sousa, de  Guiães, filha do meu tetravó, João Monteiro e de sua segunda mulher Paula Monteiro, sendo esta que viria a dar origem ao apelido que ainda hoje é a nossa imagem de marca! Os PAULA!
 
2º Que na época em que viveu, poucos atingiram a sua idade 90 anos! No entanto, como o Padre sabia que ele era muito boa pessoa, declarou na certidão de óbito que ele morreu com 100 anos!!! , conforme consta no documento que mais abaixo transcrevemos.
 
3º Que foi um dos poucos bujoenses (mas houve outros) que doou 150.000 reis à Capela de Nossa Senhora da Guia e subscreveu uma escritura de garantia dessa dádiva,  hipotecando o Quelho da Porca e o Pinheiro. E a dívida foi assumida em nome do Padre Manuel Lopes, de Bujões.
 
Isto, sim, é a bondade desde sempre estampada no coração dos bujoenses que os levaram a ajudar templos e hospitais da região e, como é curioso, que tal hábito de desprendimento se mantém até hoje! Mas não consta que aqueles que disso beneficiaram alguma vez tivessem um gesto semelhante, mesmo usando dinheiros públicos, interessando-se pela terra dos corações beneméritos! Bujões!
E para quem duvide, aqui deixamos a cópia dessa escritura e sabemos que há mais bujoenses no rol dos que assim procederam, sobretudo para com o Hospital da Divina Providência, de Vila Real, que funcionou onde hoje é o edificio da Câmara Municipal.




 
29 de AGOSTO de 1816
Morre em Bujões JOAQUIM JOSÉ DA SILVA DE BARBOZA E SOUZA.
Na sua casa de Bujões, viúvo, faleceu desta vida com todos os sacramentos necessários para a hora da morte, aos 29/8/1816, Joaquim José da Silva de Barbosa e Souza.
Já atrás referimos que era Cavaleiro da Ordem de Cristo e, como tal, foi sepultado no Convento de São Francisco, em Vila Real, no dia 31 de Agosto de 1816, por disposição testamentária que fez e que iremos transcrever. 
 
 
 
 
 
15 de Dezembro de 1821
 Casamento  singular realizado em Bujões
Na Capela de Nossa Senhora da Conceição, em Bujões, situada no atual Largo do Seixo, realizou-se em 15/12/1821 o casamento de JOSÉ ANTÓNIO DA CRUZ MENDES TABORDA, filho legítimo de Domingos José Manuel da Cruz Mendes Taborda e Dona Maria Inácia de Figueiredo Carvalho Esteves, da freguesia de Vera Cruz, da cidade de Aveiro, com Dona TERESA ANGÉLICA RODRIGUES DE CARVALHO, filha legítima de Alexandre Rodrigues e de Dona Maria Rodrigues de Carvalho Vilela, do lugar de Bujões.
 

Registo do casamento. Um dos Padres celebrantes foi o Padre João Lopes, de Bujões.
 
22 de JULHO de 1822
Casamento em Bujões de IGNÁCIO BOTELHO DA SILVA BARBOSA E ANNA BERNARDINA
 
Nesta data casou em Bujões (na Igreja de S. Pedro de Abaças) IGNÁCIO, filho de Joaquim José da Silva Barbosa e Sousa e Dona Ana Botelho de Lucena, com ANNA BERNARDINA, filha natural de Francisca Rinza Filgueiras. Antes de casarem já havia vários filhos do casal que  foram perfilhados e uma dessas filhas - Maria do Carmo Botelho Barbosa - solteira, foi mãe de Manuel Botelho, e daqui surgiria a família Botelho, hoje bem conhecida em Bujões e que consta já em página própria neste blogue (OS BOTELHO)
Nesta página sobre os BOTELHO iremos publicar brevemente alguns episódios da vida de Ignácio Botelho que acabou por falecer deixando bens mas muitas dívidas por  liquidar; Tratou-se de uma herança problemática que levou os herdeiros a desfazerem-se de alguns bens entre os quais a CORTINHA DE CIMA, vendida ao Dr. Antão Fernandes de Carvalho, Juiz desembargador de Vila Seca de Poiares, pai de Dona Zélia Fernandes de Carvalho, nascida em 3/2/1879 e falecida em 19/3/1962.
A Cortinha de Cima,  que já foi conhecida por Cortinha da Dª Zélia e  que foi comprada por um Juiz a troco do pagamento de algumas dívidas a terceiros contraídas por Ignácio Botelho, voltou muitos anos depois à posse do Sr. José Correia Botelho, trineto daquele e hoje pertence à Senhora Doutora Juiz Clotilde Botelho Chaves Ferreira,  tetraneta de Ignácio Botelho. Uma terra histórica de Bujões que  era pertença dos BOTELHO  e que, assim, passados anos, voltou à posse da mesma família.
 
3 de Março de 1841
Venda da Cortinha pelos herdeiros de Ignácio Botelho.
 
Não deixa de ter o seu significado que a primeira preocupação dos herdeiros de Ignácio Botelho, ao tomarem conhecimento das dívidas que ele deixara, foi a de criarem condições para as liquidarem recorrendo como foi o caso à venda de bens, entre os quais a CORTINHA.
O Dr. Antão Fernandes de Carvalho,  assumiu o compromisso de pagar uma relação de dívidas relativas a credores de Vila Real, por troca daquela propriedade que passou para a sua posse pelo preço de um conto, trezentos e cinquenta reis. Aquele Juiz da Relação do Porto e Cavaleiro da Ordem de Nossa Senhora da Conceição, de Vila Viçosa, pessoa prestigiada de Vila Seca de Poiares, mal imaginaria que um pouco mais de cento e cinquenta anos depois, a Cortinha viria a fazer parte do património de outro membro da magistratura judicial, e descendente da família a quem ele a adquirira em circunstâncias especiais. E assim se demonstra que os bujoenses sempre honraram os seus compromissos. Exibimos em seguida algumas páginas da enorme escritura de compra e venda:

 

 


 
 


 
 



 
 
 
28 de Fevereiro de 1865
Compra da Casa do Bairro por  Dona Theresa Angélica de Carvalho
Já na condição de viúva, residindo então em Esgueira-Aveiro, e com intervenção do seu procurador o Ilustríssimo Sr. Bento Fortunato de Moura Coutinho Almeida D´Eça, viúvo, Tenente de Engenheiros e Diretor das Obras Públicas do Distrito de Vila Real, Teresa Angélica de Carvalho comprou a António de Azevedo Roios, de Bujões,  a Casa do Bairro  e quintal por 400 mil reis metálicos.
 


ESCRITURA DA COMPRA E VENDA DA CASA DO BAIRRO

16 de Novembro de 1872
Venda da casa do Bairro a JOSÉ JÚLIO DE ARAÚJO VILELA
Por escritura realizada em Notário, Dona Luciana Augusta Godinho da Silveira Soares de Albergaria, solteira, de maior idade, residente em Esgueira-Aveiro, por herança de sua tia Dona Teresa Angélica de Carvalho Taborda, vende a José Júlio de Araújo Vilela, casado, do lugar de Bujões, umas casas telhadas e sobradadas com seu quintal, testadas, serviços e logradouros e mais pertenças, sita no BAIRRO, que parte a nascente com a estrada pública e a poente com o Padre Domingos Ribeiro de Araújo e a sul com Francisco de Oliveira : Preço 150.000 reis.
Ou seja, a mesma casa comprada 7 anos antes por 400 mil reis foi vendida pela herdeira da proprietária por menos 250.000 reis! Esta é a casa que ficou conhecida como  "a casa da Dona Conceição" , cujo pai a adquiriu nesta data. Aqui nasceu o Padre Ismael José de Araújo Vilela e outros filhos do casal José Júlio de Araújo Vilela e Maria de Jesus Ribeiro de Araújo.
 



Compra e venda da casa do Bairro - José Júlio de Araújo Vilela
 
 
 Ano de 1893
 A GRANDE DESCOBERTA JUNTO À FONTE
 
Quando da escavação das terras para instalação da fonte e tanques anexos, foram descobertos uma infinidade de objetos arqueológicos que tornaram BUJÕES, durante vários anos, notícia da mais prestigiada revista portuguesa de arqueologia " O ARQUEÓLOGO PORTUGUÊS".
Tal revista ainda hoje consta das melhores bibliotecas mundiais e para o demonstrar poderão verificar nas copias que juntamos a seguir, uma que pertence à biblioteca de Nova Iorque, Estados Unidos da América. 
Pena foi que, naquela data, estivessem ainda a ser dados os primeiros passos no estudo e recolha de objetos que fazem parte da história de Portugal e do Mundo, porque se assim não fosse, Bujões teria a sua estação arqueológica, pois é seguro que ainda hoje se encontram enterrados bem perto da fonte e num local (vinha) que pertencia ao Sr. José Dionísio, que era o pai do Sr. Araújo, restos arqueológicos do tempo dos romanos. Alguns objetos de ouro foram vendidos e, certamente, outros ficaram em poder de quem os encontrou.
Aa descobertas mais importantes foram os 7 machados da Idade do bronze, situada largas centenas de anos antes de Cristo, alguns dos quais fazem parte do acervo do Museu Martins Sarmento de Guimarães e do Museu Nacional de Arqueologia, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa. De resto, a esse género de machados é hoje atribuído o nome de "machados tipo Bujões, ou BUJÕES/Barcelos". No Museu Nacional de Arqueologia encontram-se também várias peças e fragmentos de objetos de barro (dolium), pesos romanos, etc. Existe uma página neste blogue precisamente a descrever tais Achados Arqueológicos, encontrados em Bujões.
Veja-se, em seguida, como a noticia se propagou e como existem especialistas em arqueologia que estudaram os machados encontrados em Bujões para, entre outras coisas, dar resposta a dúvidas suscitadas sobre a época da idade do bronze (situada entre 1250 a 1500 anos antes de Cristo):
Ou seja, além de provas inequívocas sobre a época em que Bujões esteve sob domínio dos romanos, também ali foi encontrada uma prova da idade do bronze, há milhares de anos atrás.
Infelizmente, existem algumas imprecisões nas notícias, sobretudo quanto à localização exata do achado e até a própria Câmara Municipal mandou elaborar um estudo em que dizem que só há conhecimento da existência de um machado. Pois à autora do estudo, lembramos que existem muitos mais objetos, entre os quais mais três machados no Museu Nacional de Arqueologia, no Mosteiro dos Jerónimos, em Belém.
Até nestas pequenas coisas, a falta de rigor diminui a importância que Bujões teve para a arqueologia portuguesa. Aliás, basta ler uma frase que consta da revista "O Archeologo Português", do ano  de 1904 ,para ficar tudo esclarecido, pois ali se diz: BUJÕES, freguesia de Abaças, é até ao momento a povoação do concelho de Vila Real que tem dado à arqueologia maior número de objetos. 
 
 


 
 
 
 
 







 
 
 
 












The New York Public Library - carimbo de recepção da edição de 1907 de " O Archeologo Português"


 
 
 
Existem mais, mas estes especialistas conhecem bem os machados de Bujões...
 







FIGUEIREDO, E.; LOPES, F.; ARAÚJO, M.F.; SILVA, R.J.C.; SENNA‑MARTINEZ, J.C. e LUÍS, E.
(2012)



– Os primeiros bronzes do território Português: uma primeira abordagem arqueometalúrgica a um conjunto de machados tipo Bujões/Barcelos. Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. Câmara Municipal
 
 
SENNA‑MARTINEZ, J.C.; LUÍS, E.; REPREZAS, J.; LOPES, F.; FIGUEIREDO, E.; ARAÚJO M.F.
e SILVA, R. (no prelo)


– Os Machados Bujões/Barcelos e as Origens da Metalurgia do Bronze na
Fachada Atlântica Peninsular. Actas do I Congresso da Associação dos Arqueólogos Portugueses. Lisboa. 2013





19 de AGOSTO de 1909
Criação da Escola mista de Bujões
 
 No Diário do Governo nº 189, de 24 de Agosto de 1909, consta o Decreto-Lei  que cria a Escola mista da povoação de Bujões, freguesia de Abaças, ficando o seu provimento dependente da aquisição do material escolar que ainda falta e duma latrina em lugar afastado da que já existe.
De facto, BUJÕES até nesta questão da Escola foi esquecida pelos órgãos políticos da época. Senão, compare-se:
Abaças já tinha escola masculina e feminina desde 1878, sendo professor dos rapazes José Rodrigues Netto e das raparigas Maria Luísa da Costa Pinto.
Vilarinho do Tanha já tinha Escola  mista desde 1899, sendo professora uma bujoense: Maria da Soledade Ribeiro de Araújo.
Em 18 de Agosto de 1910 foi nomeada para professora de Bujões Maria da Glória Reis, mas como o problema da latrina não estava resolvido só em Junho de 1917 foi nomeada professora interina Palmira da Conceição Ribeiro de Araújo e nesse mesmo ano Silvana Augusta Monteiro.
Em 1927 a situação das Escolas era a seguinte:
Bujões: Professora Maria Alice Ribeiro de Araújo
Vilarinho do Tanha: Maria da Soledade Ribeiro de Araújo
Abaças: Leopoldo de Macedo Teles de Abreu e Maria Rosa da Paz e Silva Rebordinho
Vários bujoenses para aprenderem a ler e escrever tinham de se deslocar para Vila Seca de Poiares, Abaças ou Vilarinho onde a Escola começou a funcionar muitos anos antes do que em Bujões. De resto, não é de estranhar que Bujões tivesse ficado para último, pois ainda hoje persiste essa mentalidade tacanha daqueles que  dirigem os destinos da região. 
Não deixa de ser curioso que BUJÕES formou professoras para ensinar noutros locais e tardou imensos anos a ter a sua própria Escola que funcionou numa Casa que ainda hoje existe e que é um ponto de recordação de muitos de nós que ali aprendemos as primeira letras e números e levámos as primeiras palmatoadas. Uma coisa é certa, foi graças a essas mestras inesquecíveis que se seguiram, como a professora OLGA, MARIA ADELAIDE e tantas outras que ainda hoje as temos no coração com fazendo parte do lado positivo e das coisas boas que tivemos na vida. Elas, como todas as professoras, sejam quais forem, têm a profissão mais linda do mundo. De facto, ensinar é um acto sublime que só merece admiração e reconhecimento.
(No blogue  já consta uma página sobre as PRIMEIRAS PROFESSORAS DE BUJÕES)
 
MAPA ESCOLAR DA REGIÃO - 1ª VEZ EM QUE CONSTA O NOME DE BUJÕES, ainda sem professora nomeada.


MAPA REFERINDO O DECRETO QUE  AUTORIZAVA  A ESCOLA  MISTA EM BUJÕES. Passariam vários anos, por causa da latrina...


22 de ABRIL DE 1917

Um Bujoense a caminho das trincheiras  da primeira guerrra mundial - França
 
Em 22 de Abril de 1917 embarcou para França, integrando o CEP- Corpo Expedicionário Português, o soldado nº 544 MANUEL MARIA DOS SANTOS FARROCO, nascido em Bujões em 17 de Janeiro de 1893, que também ficou conhecido, anos mais tarde, por tio Manuel Soqueiro.
Oriundo do Regimento de Infantaria 13, de Vila Real, onde assentou praça em  Maio de 1914,  fez parte da 1ª Companhia - 2º Batalhão e 5ª Brigada do CEP. Esteve em França numa das frentes daquela horrível guerra, sofrendo todo o tipo de privações, sobretudo fome e frio, sempre sujeito aos ataques de gases e à superioridade em homens e armamento do poderoso exército alemão. Desembarcou em Lisboa em 28 de Julho de 1918, tendo permanecido em França mais 5 meses do que era habitual para os soldados em combate.
Sempre se ouviu dizer que ele desertou da guerra, abandonando a sua Companhia e que veio a pé, até Bujões, mas a verdade é que não foi assim. Ele foi um soldado premiado como  grande atirador, tendo recebido a espingarda que utilizava. Como era normal na época, esteve alguns dias doente e sofreu um castigo por ter chegado atrasado a um serviço, mas no essencial cumpriu  o seu dever para com a Pátria, apesar de os nossos soldados terem sido abandonados à sua sorte, e muitos deles terem sido chacinados na batalha de La Lys, em Abril de 1918, precisamente quando estavam na véspera de regressar e já tinham tudo preparado para abandonar França, sendo apanhados  à traição. Brevemente iremos publicar uma página no blogue dedicada a este emérito bujoense, homem bom e simples que viria a ser o melhor de todos os soqueiros de Bujões e que também foi um soldado valente e combatente sem medo.
 
Caderneta militar de Manuel Maria dos Santos Farroco. Combateu em França integrando o CEP.
 
9 de Fevereiro de 1933 

O GRANDE PROCESSO JUDICIAL ENTRE BUJÕES E GUIÃES.
 
Sendo duas aldeias sempre amigas, Bujões e Guiães envolveram-se a partir de Fevereiro de 1933 numa disputa judicial que teve o seu epílogo no Supremo Tribunal de Justiça, de Lisboa. O processo respeitava à legitimidade da posse de uma terra de cultivo, sita na Veiga das Lamas, hoje Estalagem e que era conhecida, então, pelo "Campo do Fofinho".
Os bujoenses envolvidos eram encabeçados por ÁLVARO MOREIRA, (irmão do Sr. Bento), JOÃO PAULA (meu pai, ainda solteiro naquela data), COLUMBANO BARBOSA e MANUEL MARIA DOS SANTOS FARROCO (o tio Manuel Soqueiro), entre outros.
A Junta de Guiães, que curiosamente tinha tido vários anos antes como  Presidente  da sua Paroquia o bujoense Padre Ismael José de Araújo Vilela, alegava  que há mais de 40 anos era dona daqueles terrenos. Por sua vez, os bujoenses contestavam que isso não era verdade...
Daí viria a resultar um longo processo judicial, com mais de 200 páginas e a derrota da Junta de Guiães, na primeira instância, em Vila Real, depois no Tribunal da Relação do Porto e, por fim, no Supremo Tribunal de Justiça, em Lisboa. Representou Bujões um Advogado do Porto,  Dr Augusto Ruas, e nessa ação teve papel primordial o bujoense Álvaro Moreira que se envolveu no assunto com entusiasmo e certo da razão que assistia a todos. Assim, junto com os outros réus, acabou por obter uma clamorosa vitória jurídica, talvez o único caso que ficará na história da aldeia por ter sido decidido no Supremo Tribunal de Justiça. Não sei quanto custou o processo a todos, mas o que interessa é que ficou confirmada a razão que assistia aos bujoenses e que estes eram pessoas que agiram dentro da lei e da boa fé. De seguida, podem apreciar alguns documentos referentes ao processo. 


O INICIO DO PROCESSO



 



A última das onze páginas do acordão do Tribunal da Relação do Porto, atribuindo razão aos bujoenses.




A procuração outorgada ao advogado que defendeu os bujoenses, subscrita por quem sabia assinar.






Em 25 de Janeiro de 1935, o Supremo Tribunal de Justiça decidiu que os bujoenses tinham razão. Passados dois anos do inico do processo tudo terminou. Se fosse hoje, quantos anos seriam precisos? 

 
 Página em revisão
 

3 comentários:

  1. Tomando conhecimento desse seu blog, curioso que sou na busca de informações sobre meus primeiros ascendentes desde Abaças, os Rodrigues e por certo também os Mouras, pude ficar diante de tão fascinantes detalhes de uma época em que eles existiram. Parabéns Claudia.

    ResponderEliminar
  2. Olá Marcos Nogueira
    A Claúdia, jovem bujoense sempre disponível para qualquer colaboração que este blog necessite, não lhe pode agradecer, mas agradeço eu em seu nome e em meu nome como autor do blog dizendo-lhe que a familia Rodrigues ( antigamente escrevia-se ROIZ) é bem antiga em Abaças e existem registos desde mil seiscentos e pouco. Basta ver os registos paroquiais mais antigos através da Net ( Arquivo Distrital de Vila Real) para se encontrarem essas gentes da familia RODRIGUES, quer nas páginas dos casamentos, quer nascimentos, quer naturalmente óbitos... Rodrigues há imensos. Já Mouras existirão menos, mas também haverá. Precisa pesquisar com calma e talvez desde os mais recentes para trás... Se precisar de alguma ajuda, conte comigo Um abraço jvpaula@netcabo.pt José Ventura Paula

    ResponderEliminar
  3. É um trabalho exímio e atencioso de pesquisa. Muito obrigado por disponibilizar essas informações. Descendo duplamente do casal José Ferreira Botelho e Maria Leonor Botelho da Fonseca. O filho do casal Luís Botelho Mendonça, que se tornou padre e coadjutor em São Leonardo da Galafura, teve dois filhos que são meus antepassados. Conseguir descobrir a filiação graças às dispensas matrimoniais dos descendentes do padre Luís que se casaram muito tempo depois em 1855.

    ResponderEliminar