MARIA DOS REMÉDIOS-UMA HISTÓRIA ... MUITOS ENIGMAS





Nos próximos meses este blogue irá dedicar-se a levar ao conhecimento dos seus leitores,  a história de algumas das famílias de Bujões, suas origens, factos históricos mais salientes e seus personagens principais.
Numa página  da primeira edição deste espaço já iniciámos a história da família BARBOSA. Como essa família secular irá dar origem a outra família com o apelido BOTELHO, iremos acabar por completar ambas as histórias, tarefa que irá demorar vários meses.
Entretanto, vamos iniciar em breve, e por capítulos, a história de diversos personagens que marcaram os acontecimentos que tiveram o seu início há mais de 200 anos, quer em Bujões, quer noutros locais não muito distantes e que, no seu conjunto, poderiam dar suporte a um romance digno de telenovela, cujo sucesso estaria assegurado, sem necessidade de recorrer à ficção.  De facto, tudo assenta em factos reais e comprovados, com excepção, claro, de alguns episódios que terão sido intencionalmente mantidos escondidos por representarem situações de escândalo naquela época longínqua em que os amores e as paixões, os filhos não reconhecidos, as rodas das Igrejas, o  desrespeito pelo celibato, tudo contribuía, afinal, para que sob uma aparência de normalidade, com excepção das guerras que se iam sucedendo no país, se tivessem evidenciado de uma forma impressionante as chamadas fragilidades ou fraquezas humanas.
Mas não nos interessa muito dar grande destaque a tais comportamentos, porquanto a história da humanidade está desde o  seu início cheia desses fenómenos e quem somos nós para julgar. 
Estejam, portanto, atentos a esta nova forma de afirmação deste blogue que dará a conhecer às gerações mais novas da nossa aldeia, a maior parte espalhadas pelo mundo inteiro, aqueles que ajudaram no passado a afirmar e a crescer a nossa antiga e histórica terra de Bujões, mesmo que com algum "pecado" à mistura.
Lugar pequeno e humilde, é certo, mas centro inesquecível de muitas e variadas vidas que ao serem dadas a conhecer irão cimentar e fortalecer o orgulho que fazem dela uma terra de gentes de carácter e de trabalho! No fundo o que interessa realçar e deixar como memória é essa característica que nos fez iguais a muitos outros, mas também diferentes na vivência humana que esteve na origem de cada um de nós!


PERSONAGENS DA HISTÓRIA 


  Padre DOMINGOS RIBEIRO DE ARAÚJO
  



2 de Dezembro de 1782 - Casamento em Bujões de MANUEL ANTÓNIO, filho de João Ribeiro e de sua mulher Joana Rodrigues, do lugar de Vessadios, Andrães, com ANA LUÍSA DE FIGUEIREDO, filha legítima de Francisco Xavier e de Josefa Maria, de Bujões.

Nota: Manuel António nasceu em Vessadios em 1/1/1744.



11 de Agosto de 1795 - Registo de óbito de ANA LUÍSA, mulher de Manuel António Ribeiro, do lugar de Bujões. Faleceu de repente no lugar da Granja-Vilarinho de Freires.

                       
8 de Agosto de 1796 - 2º casamento de MANUEL ANTÓNIO RIBEIRO, viúvo de Ana Luísa, do lugar de Bujões, com ANA MARIA VILELA, solteira, filha de João Vilela e de Mariana Rodrigues, do lugar de Vilarinho do Tanha.
Nota: Ana Maria, nasceu em 26/12/1758.


                                Registo de baptismo de DOMINGOS.
2 de Junho de 1798 nasceu em Bujões, DOMINGOS, filho legítimo de Manuel António Ribeiro e de Ana Maria.
Neto pela parte materna de João Ribeiro e de Joana Rodrigues, do lugar de Vessadios, freguesia de São Tiago de Andrães, e pela parte paterna de João Vilela e Mariana Rodrigues Vilela, do lugar de Vilarinho, da freguesia de São Pedro de Abaças.
Padrinhos: Domingos Ribeiro, filho dos avós paternos e Antónia Maria, filha dos avós maternos.




7 de Janeiro de 1817 -Domingos Ribeiro requereu a entrada  nas chamadas ordens menores (vida sacerdotal), como comprova a carta de segredo dirigida ao Pároco de São Martinho de Anta, que integra o processo de habilitação de génere. 


                               


Documento do volumoso processo de habilitação de génere do Padre DOMINGOS RIBEIRO, cuja assinatura consta no requerimento por ele apresentado à Diocese de Braga. Contudo,ele ficaria conhecido por PADRE DOMINGOS RIBEIRO DE ARAÚJO



PERGUNTAS E RESPOSTAS
Sendo bujoense, ordenado presbítero em 1823, qual o percurso do PADRE DOMINGOS RIBEIRO DE ARAÚJO? 


No inquérito da terceira Parte de Vila Real, de 1818, nada vem referido a seu respeito na freguesia de Nossa Senhora das Neves de Vilarinho dos Freires, nem sequer entre os pretendentes às ordens. Mas vem mencionado em S. Pedro de Abaças, onde surge referido como único ordinando: “Domingos Ribeiro, minorista, frequenta as aulas em Braga, e nada achei contra o procedimento dele”. O visitador-informador era um tal João Lopes de Carvalho.
Nada vem a seu respeito no Inquérito da Visita da segunda parte de Vila Real, de 1824, nem tal é de admirar, por o inquérito abranger freguesias de outra zona geográfica.
No Inquérito do Arciprestado de Vila Real, de 1845, intitulado Informações secretas e geraes das Freguezias do Arciprestado de Villa Real, que de mandado do desembargador vigário geral do arciprestado fez e concluiu, em dia de 31 de Dezembro de 1845, o arcipreste António Esteves Botelho, vindo aqui o seguinte: “O P. Domingos Ribeiro de Araújo, secular (sacerdote), natural da freguesia de Abaças e domiciliário no lugar da Prezigueda desta freguesia (S. Pedro Apóstolo de Vilarinho dos Freires) há mais de 20 anos, idade 47 anos, tem licença para usar de suas ordens até 1846, em que finda o seu exame; frequentou as aulas em Braga; não tem tido emprego algum eclesiástico; quanto à sua conduta, não tem sido má até agora, ordenado (de presbítero) em 1823; é doente.”
Nota:
Síntese  acima elaborada pelo Sr. Dr. António Franquelim Sampaio Neiva Soares, professor aposentado da Universidade do Minho.

Existem inúmeros actos religiosos e em que é referida a presença do Reverendo Padre Domingos Ribeiro de Araújo, sobretudo em Bujões, tendo intervido também em actos notariais, como testemunha. 


Quando e onde faleceu o Padre Domingos?
O Padre Domingos Ribeiro de Araújo faleceu em Bujões em 9/5/1876. Deixou testamento e distribuiu os seus bens pelos cinco filhos, cuja mãe era Maria dos Remédios, personagem sobre a qual nos iremos pronunciar em seguida:

 
 MARIA DOS REMÉDIOS


Paróquia de Poiares: Página do livro onde consta o registo de baptismo de MARIA DOS REMÉDIOS, exposta na Roda de Canelas no dia 22 de Dezembro de 1829: padrinhos António Cardoso de Lemos,  que assinou, e   Maria Ignácia.



Quem terá abandonado na Roda da Igreja de Canelas, Maria dos Remédios?
Creio que será muito difícil obter provas documentais sobre esse acto, que naquela época era quase como natural, repetindo-se em milhares de igrejas ou mesmo nos locais mais absurdos.
Veremos, mais tarde,  se é possível chegar a alguma conclusão.

Foram abandonadas muitas crianças na Roda de Canelas?
Sendo Canelas uma vila de pequena dimensão,e ainda hoje pouco mais cresceu, o abandono de crianças na RODA da Igreja, que atingiu números impressionantes em toda a região transmontana (e não só), registou os seguintes valores:
1827 - 20 crianças 
1828 - 17 crianças
1829 - 17 crianças, entre as quais Maria dos Remédios.

O que sucedia às crianças que eram colocadas no mecanismo rotativo que ficou conhecido por Roda dos Expostos ou dos Enjeitados?
Em primeiro lugar havia pessoas que eram responsáveis pelas rodas, conhecidas por rodeiros, cabendo-lhe a missão de recolher as crianças ali abandonadas, habitualmente às escondidas e durante a noite. Esse triste fenómeno atingia todas as classes sociais, com natural predominância para as mulheres mais pobres. As Rodas tinham uma sineta que alertava para o abandono de mais uma criança e havia em quase todas alguém responsável por prestar assistência e retirar o menino ou menina daquele local entregando-o a uma ama que estava incumbida de cuidar da higiene e alimentação. Quase sempre no dia seguinte, a criança era baptizada e os padrinhos eram pessoas que faziam parte da comunidade cristã e, em muitos casos, os próprios rodeiros.
Em Canelas, o rodeiro João de Azevedo foi padrinho de 37 das 54 crianças abandonadas nos anos acima referidos. E sua mulher, Ana Maria do Carmo, bem como sua sobrinha Eulália do Sacramento e, ainda, Ignácia Maria, ama da dita Roda, ou Teresa de Jesus, criada da mesma, também foram madrinhas de diversos baptizados. Seguidamente as crianças eram entregues a pessoas que se dispunham a criá-las ou a amas contratadas para o efeito, mas infelizmente a maioria delas acabava por falecer. Todo este fenónemo tem de ser analisado à luz da época, em que existia muita miséria, muitos abusos sobre mulheres e inexistência de leis, mas também havia casos em que se tratava de esconder situações de escândalo. Aliás, mesmo sendo a Igreja quem criou mecanismos para ajudar as pobres crianças, também teve membros seus envolvidos nesta triste realidade.

Como em Bujões não havia RODA nas capelas que ali existiam, mesmo assim houve crianças abandonadas?
Infelizmente, apesar das Capelas de Santo Amaro e Nossa Senhora da Conceição não possuirem o mecanismo da Roda, mesmo assim existe registo de crianças abandonadas em Bujões, como poderemos observar nestes dois documentos, e sabemos que houve mais casos: As crianças eram abandonadas à porta de pessoas provavelmente mais abastadas, em plena rua.



Registo de batismo de Venância Amália Casimira de Almeida Coelho, apareceu exposta no lugar de Bujões em 31 de Maio de 1751 - Padrinhos António Fernandes e sua mulher Francisca Lopes.

Registo de baptismo de LUIZA que apareceu exposta no lugar de Bujões (Bojamos) aos 27 de Junho de 1751.
Padrinhos António Fernandes e sua mulher Francisca Lopes, os mesmos da criança acima.


Voltando à MARIA DOS REMÉDIOS há algum elemento especial no seu registo do baptismo ?
Sim, existem vários:
Em primeiro lugar, assinale-se que o rodeiro João de Azevedo assinou o registo de outra criança abandonada e baptizada em 20 de Dezembro (Maria do Carmo), de quem é padrinho, mas o registo de Maria dos Remédios, batizada em 22 de Dezembro, está assinado por António Cardoso de Lemos que era um personagem importante da Administração de Canelas, ao nível do Cartório Notarial. Ele nunca apareceu como padrinho nos três anos acima referidos, com excepção deste registo. Maria Ignácia terá o nome invertido porquanto em todos os registos em que intervém como madrinha o nome apontado é Ignácia Maria, ama de serviço à Roda.
Ambos os registos têm indicação de  impedimento do Pároco local, assinando em seu lugar o Padre Jerónimo Pires.

Sabe-se alguma coisa sobre os pais de Maria dos Remédios uma vez que ela foi abandonada na Roda da Igreja de Canelas?
Não existe uma certeza absoluta, mas presume--se que o nascimento de Maria dos Remédios resultou de uma paixão entre um  membro da prestigiada familia Canavarro, de Sabrosa, e  uma tal Dª Antónia... também de Sabrosa. Pelo que se diz e se sabe, Dona Antónia também pertencia a outra conceituada família nobre daquela conhecida povoação transmontana. Por isso mesmo, não seria talvez conveniente que o fruto de uma ligação ilegítima viesse a provocar escândalo, uma vez que se trataria de um romance entre um militar, casado, membro de uma das famílias mais importantes da nobreza da época (os Canavarro), com ligações à família real inglesa, e uma jovem solteira, que  também pertencia a outra família com ligações à coroa. Mas tudo isto não passa de uma história que o tempo se encarregou de dificultar a sua descoberta e certezas não há nenhumas. Tudo parece apontar,  isso sim, no sentido de que Maria dos Remédios terá nascido na Presegueda, perto de Canelas, e que tudo foi planeado  para ela voltar ao local onde nasceu para crescer sob a protecção da própria mãe ou da família desta, pois uma das maiores casas senhoriais que ainda hoje existe, a Casa Grande, pertencia a um irmão de Dª Antónia, de Sabrosa. Vários anos mais tarde, Maria dos Remédios viria a conhecer o Padre Domingos Ribeiro de Araújo que ali vivia em casa da viúva do Capitão-Mor da Presegueda, de quem era capelão.
Antes, porém, haverá que referir que não é facil  procurar e obter elementos sobre quem seria a mãe e o pai de Maria dos Remédios, uma vez que quando alguém era colocado na RODA a Igreja considerava-o como sendo Exposto ou Enjeitado, ou seja abandonado pelos pais, logo era considerado filho ou filha de pais incógnitos. Uma pequena luz sobre o assunto viria a surgir anos mais tarde e a ela nos iremos  então referir.

Confirma-se, então, que o Padre Domingos, nascido em Bujões, residia na Presegueda e aí terá conhecido Maria dos Remédios?
Sim.  Já vivia na Presegueda desde cerca do ano de 1823, antes, portanto, de ter nascido Maria dos Remédios. Existem vários documentos que o atestam e que iremos em seguida juntar.
Ele nunca exerceu funções em nenhuma paróquia, como consta do texto acima, mas depois de ter obtido licença para exercer o cargo de sacerdote desempenhou aquele lugar de Capelão privado de uma das pessoas mais importantes da Presegueda - Dona Delfina Leonor Pereira da Mesquita e Castro.



Escritura de Julho de 1844, efectuada em Canelas, com intervenientes da Presegueda: Testemunha presente: Padre Domingos Ribeiro de Araújo

19 de Outubro de 1844 - Escritura de venda efectuada por Dona Delfina Leonor Pereira da Mesquita, viúva,  residente na Presegueda,em que são feitas referências ao Padre Domingos Ribeiro de Araújo, que no final assinou como testemunha . 

No documento acima, refere-se no respectivo articulado que o Reverendo Domingos Ribeiro de Araújo é meu Capelão e comigo residente ... isto é; ele residia na casa da Quintã, que pertencia à Dona Delfina Leonor Pereira da Mesquita. Essa casa ainda existe na Presegueda, pertencendo a um emigrante que a remodelou e teria a sua pequena Capela privada, entretanto desaparecida.





   Assinatura do Padre Domingos Ribeiro de Araújo e de Dona Delfina da Mesquita.


O Padre Domingos interveio em muitos actos de natureza religiosa?
Já dissemos que ele não era responsável por nenhuma paróquia. Contudo, no documento acima referido aparece a indicação de que ele era Capelão na casa da Quintã, pertença de Dª Delfina Leonor Pereira da Mesquita e Castro, sita na Presegueda, que tinha certamente local para celebrar missa. Aliás, na Presegueda, ainda hoje existem casas que possuem capelas próprias, como é o caso da Capela de Nossa Senhora dos Remédios, que faz parte da Casa Grande, que era nessa época pertença de Affonso Botelho de Sampayo e Sousa.
Por sua vez, este conhecido membro da nobreza, falecido no Porto em 22/1/1868, tinha uma irmã - Dona Antónia Telles de Castro Rolim Pinto da Mesquita - que nasceu em Sabrosa em casa dos pais - José Dionísio Telles de Castro Aparycio Van Odyck e Dona Ana Lúcia Pinto da Mesquita Morais Sarmento.
Depois do nascimento de Maria dos Remédios, ela terá passado a residir em Vessadios, Sabrosa, em casa de uma irmã - Dona Albertina- casada com o Capitão António Lopes Esteves do Nascimento.
Dona Antónia Teles recebia do irmão uma quantia anual, estipulada por escritura notarial, tudo levando a acreditar  que tenha sido ela  a mãe de Maria dos Remédios. Portanto, o Padre Domingos Ribeiro de Araújo funcionava como um Padre protegido por uma figura da nobreza e estaria ao  serviço dessa pessoa como conselheiro espiritual. Esse facto era muito habitual nessa época, pois existiam imensos padres e não havia paróquias para todos. 
Veja-se que quando Dª Delfina Leonor feleceu em 12 de Fevereiro de 1849, o seu genro Dr. António José de Magalhães mandou celebrar uma missa com 17 Padres, entre os quais, se presume, estaria  o Padre Domingos!  

Quanto ao resto, sabe-se algo mais sobre outras intervenções do Padre Domingos?
Apenas que interveio em alguns baptismos, casamentos e óbitos em Bujões (Abaças), sendo de realçar algumas situações, como estas:


Bujões  23 de Fevereiro de 1841- Baptismo de DELFINA COMBA, filha de António Rodrigues Comba e Teresa Maria: Foram padrinhos o Padre Domingos Ribeiro de Araújo e Dona Delfina Leonor Pereira da Mesquita, do lugar da Presegueda, Vilarinho dos Freires. Por esta, tocou a baptizada José Rodrigues Vasques (este personagem de Bujões será referido a seu tempo).
DELFINA COMBA casou em Bujões em 4/8/1870 com VICENTE BOTELHO, de 22 anos, filho natural de CÂNDIDA BOTELHO. O filho mais conhecido deste casal é João Botelho, nascido em 4/6/1881, que casou com ALBERTINA COMBA.



11 de Abril de 1846 -  Nascimento de JOSÉ,  o 4º filho de António Alves Cardeal e Anna Bernardina: Ficaria conhecido por JOSÉ MARIA ALVES CARDEAL.
Padrinhos José Alves Ribeiro, de Vila Real, e MARIA DOS REMÉDIOS, residente no lugar de Bujões.
 

Este documento  acima, será o mais antigo que refere  Maria dos Remédios já então como sendo residente em Bujões. Nesta data, tinha pouco mais de 16 anos de idade. Presume-se que já havia abandonado a Presegueda e nascido a paixão pelo Padre Domingos. Este, por sua vez, deixou de residir na Presegueda e passou a residir em Bujões. Ele era conhecido pelo Padre Domingos da Eira, neste caso a Eira que ainda hoje existe, mesmo ao lado do local onde anos mais tarde funcionaria a primeira Escola primária de Bujões, porquanto existem documentos que situam a sua casa nessa zona da aldeia.


9/11/1852 - Bujões. Mais um casamento em que o padre Domingos Ribeiro de Araújo interveio como padrinho. Foram vários a partir desta data, entre os  quais o de Manuel Botelho com Rita de Jesus Cerdeira.


Quando nasceu a primeira filha de Maria dos Remédios?
FILOMENA AUGUSTA, a 1ª filha de Maria dos Remédios nasceu em 1847.
Não sabemos o motivo, mas não deixa de ser estranho que o baptismo dessa primeira filha de Maria dos Remédios e do Padre Domingos Ribeiro de Araújo tenha sido realizado em Galafura! Sim, em Galafura, quando ela nasceu em Bujões em 4/7/1847.
Porque não foi baptizada em Abaças como era costume  para todos aqueles que nasciam em Bujões? Talvez o Padre João da Silva Monteiro, então pároco de Abaças, não quisesse assumir a responsabilidade de ter de proceder a tal acto sabendo que a mãe não era casada e que o pai era um membro do clérigo, seu colega. Além do mais, a indicação então obrigatória da indicação do nomes dos avós, que sendo pessoas conhecidas, teriam de ser anotadas no livro como anónimos, terá levado a que fosse aconselhado o baptismo fora da freguesia. Também poderia ter sido um acto de tentativa de ocultação para evitar maior escândalo, tendo em atenção que os padres não podiam ser considerados pais a não ser com autorização expressa de Braga e que as fragilidades humanas invocadas por quem cometia tais "pecados" não eram muito bem acolhidas por quem era defensor do celibato. Adiante:





11 de Julho de 1847 - Livro de registo de batismos da paróquia de Galafura : FILOMENA, filha natural de Maria dos Remédios residente em Bujões, da freguesia de São Pedro de Abaças, não tem Avós paternos nem maternos porque a Mãe é exposta; nasceu dia quatro de Julho de mil oitocentos e quarenta e sete e no dia onze do mesmo mês foi baptizada na pia baptismal desta Igreja de S. Vicente de Galafura, por mim Padre João José de Sousa Teixeira Motta, Pároco dae mesma. Foram padrinhos José Rodrigues Vasques e Maria de Oliveira do dito lugar de Bujõs...


Que tem este registo de especial?
Este registo tem uma importância fundamental para se saber quem era, afinal, Maria dos Remédios. 
Em primeiro lugar refere o registo que Filomena, que também usaria o nome de Filomena Augusta,   é filha natural de Maria dos Remédios, e esta alusão quer simplesmente dizer que Maria dos Remédios era mãe solteira, sendo Filomena filha de pai incógnito.
Mesmo que fosse conhecido que o pai era o Padre Domingos, esta referência de que Filomena era filha natural estava correcta porque o Padre Domingos só podia casar se abandonasse o sacerdócio ou fosse autorizado a assumir a paternidade. De facto, nessa época, eram inúmeros os Padres que tinham filhos e viviam com eles mas não estavam casados porque isso era impossível face às disposições impostas pelo Concilio de Trento.
Em segundo lugar, o registo diz que FILOMENA não tem avós paternos nem maternos porque a Mãe é exposta. Isto significa que a mãe foi abandonada na RODA e como tal "ninguém saberia" quem eram os  seus pais e muito menos os avós.
Porém, a mãe conhecia perfeitamente que existiam avós paternos - os pais do Padre Domingos- mas não os podia indicar porque era mãe solteira e a filha era como se fosse de pai incógnito. E deveria conhecer, assim julgamos nós, quem eram os avós maternos,mas também não os podia indicar porque eles não haviam casado entre si e eram figuras que tinham de ficar à margem do escândalo, até porque agora já não era somente o caso da mãe de Maria dos Remédios, mas era também a sua própria neta que não poderia ser registada com o nome do pai-  por ser um sacerdote! 

Porque foram então baptizar Filomena a Galafura, levando de Bujões os respectivos padrinhos? 
Não será de menosprezar a hipótese de o Paróco de Abaças se ter recusado a efectuar o baptismo porque tinha consciência de que iria omitir algo na elaboração do registo ou, então, alguém entendeu que, deste modo o acto ficava mais oculto. O problema é que nasceriam mais filhos... 
Note-se que José Rodrigues Vasques, de Bujões, homem forte da Irmandade das Almas, vai aparecer como PADRINHO dos quatro primeiro filhos de Maria dos Remédios. Outra invulgaridade! Mas esta particularidade tem uma explicação que será referida mais adiante.


Quem foi a segunda filha de Maria dos Remédios?
 A 2ª filha de Maria dos Remédios é MARIA DE JESUS, nascida em Bujões em 1849.



Em 12 de Março de 1849 nasceu em Bujões MARIA DE JESUS, 2ª filha de Maria dos Remédios e do Padre Domingos Ribeiro de Araújo. O pároco de Abaças- João da Silva Monteiro- elaborou o registo de baptismo, mas vejamos com que  reticências:


Que particularidades tem este registo?
Este registo foi efectuado em Abaças, pelo pároco de então, João da Silva Monteiro, que escreveu...
MARIA, ( Maria de Jesus), filha natural de Maria dos Remédios, residente no lugar de Bujões, desta freguesia de São Pedro de Abaças e Neta Materna de Dona Antónia de ...... e Avó incógnito da Vila de Sabrosa. Nasceu aos 12 dias do mês de Março de mil oitocentos e quarenta e nove e foi baptizada solenemente no dia vinte do sobredito mês e ano. Foram padrinhos António Botelho Moutinho e Maria Alves, solteira, ambos do lugar de Bujões.
Ou seja, a avó era D. Antónia, mas faltava o resto do nome, ficando as reticências... o avô era incógnito, mas diz que era da vila de Sabrosa. 

Então se era incógnito, como sabiam que era da vila de Sabrosa?
Além desta particularidade, existe outra que é o facto de, pela primeira vez, aparecer a referência à avó materna de Maria de Jesus, mas indicada apenas como Dª Antónia.... (estas reticências são muito significativas!!!), pois revelam a hesitação do Padre que efectuou o registo, revelando receio em colocar o resto do nome, pelo que se limitou a indicar uns pontinhos... deixando o registo incompleto.
Todavia, ainda mais estranha é a circunstância de que, passado meio ano, o paróco de Abaças- Padre João da Silva Monteiro- que fizera o primeiro registo, ter elaborado um outro, facto absolutamente raro, digamos único, e nele ter procedido às seguintes alterações, como se pode constatar no documento que consta em seguida a este texto:
a) As reticências a seguir ao nome da avó materna que constam do primeiro registo - foram substituídas pela indicação da vila  de Sabrosa, ficando a constar com o nome de Dona Antónia, da vila de Sabrosa, mas já nada refere sobre o avô que, de facto, constava no primeiro registo como sendo daquela vila.
b) Nasceu aos 9 de Março, em vez de doze
c) Recebeu os santos óleos no dia 16 de Março e não a 20 de Março.
d) Os padrinhos foram JOSÉ RODRIGUES VASQUES (que não constava no primeiro registo) e António Botelho Moutinho (este já constava). Ou seja: em vez de um padrinho e uma madrinha, passou a ter 2 padrinhos.

O segundo registo de baptismo elaborado 6 meses depois....


O 3º filho é um rapaz?  Sim, o 3º filho de Maria dos Remédios é um rapaz, a que foi dado o nome de José Dionízio, nascido em Bujões em 1852.

JOSÉ DIONÍSIO, filho natural de Maria dos Remédios, residente no lugar de Bujões, desta freguesia,  neto materno de Donna Antónia da Vila de Sabrosa. Nasceu aos nove dias do mês de Outubro de mil oitocentos e cinquenta e dois, foi baptizado solenemente ao receber os Santos óleos no dia vinte do sobredito mês e ano. Foram padrinhos José Rodrigues Vasquez e Maria Ritta de Macedo, de Vila Real e por esta tocou o baptizado António Botelho Moutinho do lugar de Bujões....


Este registo tem alguns destaques?
Julgamos importante salientar que neste registo os padrinhos são os mesmos da 2ª filha de Maria dos Remédios e que José Rodrigues Vasquez também é padrinho das duas primeiras filhas.
Aparece o nome de  Maria Ritta de Macedo, de Vila Real,  como madrinha, mas não esteve presente, pois quem tocou a baptizada, em seu lugar, foi António Botelho Moutinho, que já constava  como padrinho no baptismo de  Maria de Jesus.



3. DONA ANTÓNIA ... de SABROSA

Contudo, o mais importante de tudo parece ser o nome dado ao baptizado: JOSÉ DIONÍSIO. E porquê ?
Precisamente porque esse é o nome do pai de Dª ANTÓNIA DE SABROSA e porque nunca esse nome fora atribuído antes a  nenhuma pessoa de Bujões.

Então se sabemos quem é o pai de Dona Antónia, porque tanta relutância em juntar documentos comprovativos?
Não existe relutância nenhuma, e tanto assim é que vamos colocar em seguida o documento em causa, mas haverá que ter em conta que até o sacerdote que procedeu ao baptismo dos cinco filhos de Maria dos Remédios nunca foi além de indicar que eram netos de Dona Antónia de Sabrosa, bem sabendo que era sua obrigação colocar o nome completo da avó, que era solteira, pois quanto ao avô, já era mais complicado porque alude-se que era casado com outra senhora da nobreza, isto se tivermos em conta que o primeiro registo diz que é de Sabrosa e que vai aparecer um documento em que dão a Maria dos Remédios o apelido de Canavarro. Será isto suficiente? Nem pensar..., mas tem alguma relevância!



Dona Antónia, (Antónia Telles Rolim Pinto da Mesquita) filha legítima de José Dionísio Telles de Castro Aparicio Van  Odyck e de Dona Anna Lucia Pinto da Mesquita Morais Sarmento, nasceu aos dois dias do mês de Maio de 1812 e baptizada na Igreja de S. Salvador de Sabrosa aos dez de Maio: Padrinho: António Feliciano Telles de Castro Aparício Van Odik, Cavaleiro da Ordem de Cristo, Capitão do Regimento de Cavalaria, tio da baptizada e por procuração que fez a José Constantino Lobo Tavares de Sam Payo e por devoção a Nossa Senhora da Conceição ...
Assinatura do pai de Dona Antónia.- José Dionizio Telles de Castro Apparycio Van Odick.


Ora, se Dona Antónia nasceu em 1812, e a filha Maria dos Remédios em 1829,  então tinha pouco mais de 17 anos de idade quando esta nasceu?
Sim, tinha 17 anos e meio. O curioso é que a primeira filha de Maria dos Remédios - Filomena- como nasceu em 1847, a mãe também  tinha  apenas 18 anos e meio de idade. Ou seja, mãe e filha apaixonaram-se cedo  e tiveram ambas filhos naturais,  sendo bastante jovens.

Que aconteceu a Dª Antónia uma vez que ela vivia em Sabrosa e a filha pelos vistos foi metida na Roda de Canelas?
Esse é um mistério que ainda não está completamente decifrado, nem cremos que alguma vez o seja.
Em primeiro lugar, Dª Antónia tinha um irmão, Afonso Botelho de Sampaio e Sousa que era Fidalgo e Cavaleiro da Casa Real, casado com Dª Rosa Margarida Guedes de Mansilha, donos da Casa Grande da Presegueda e aí residentes.
Maria dos Remédios vivia na Presegueda e aí conheceu o Padre Domingos.  Tudo indica que a circunstância de ter sido metida na Roda da Igreja de Canelas, a meia dúzia de quilómetros de distância, ter-se-á supostamente tratado de um plano elaborado para ocultar a verdadeira história que levara ao seu nascimento, numa data em que o Padre Domingos já estava a residir na Presegueda, mas obviamente sem nada ter a ver com o inicio atribulado de vida daquela que um dia viria a ser a mulher que lhe deu cinco filhos.

E como era a vida de  Dona Antónia ?
Antes de nascer Maria dos Remédios, sua filha, Dona Antónia vivia em Sabrosa em casa dos pais. Aliás, esteve presente em diversos casamentos e baptizados em Sabrosa, assim como seus pais e  seus irmãos, entre os quais Dª Albertina. E existem documentos que atestam que entre os pais dela e a familia Canavarro havia relações de amizade. Depois do nascimento da filha de Dona Antónia, há um interregno de alguns anos em que ela e a família deixam de ser vistos em cerimónias religiosas na vila de Sabrosa, só voltando a reaparecer,  anos mais tarde, em Vessadios, num baptizado  em que Dona Antónia foi madrinha da sobrinha Maria do Sacramento, primeira filha de sua irmã Albertina Teles e do marido António Lopes Esteves do Nascimento, nascida em 22 de Dezembro de 1835.
Nota: O facto de Dona Antónia Telles ser a madrinha deste baptizado, pode não ser casual. A sobrinha nasceu em 22 de Dezembro de 1835, exactamente 6 anos depois de ela mesmo- Maria dos Remédios- ter sido baptizada na Roda de Canelas em 22 de Dezembro de 1829. Coincidências?

B
Baptismo de Maria, sobrinha de Dona Antónia, nascida em 22/12/1835.

E Dona Antónia tinha bens ou meios próprios para viver?
Presumimos que vivesse em casa dos pais. Contudo, em 24 de Janeiro de 1850, o irmão Afonso e sua mulher fizeram uma doação  a Dona Antónia comprometendo-se a pagar-lhe 24.000 reis anuais, na condição daquela viver na companhia de sua irmã Maria Teles, ou onde esta lhe designar. Ora, Maria Teles,era casada com o Morgado da Portela-Cumieira e faleceu em Abril de 1853,ainda jovem, voltando o viúvo a casar, razão mais do que plausível para que a Dona Antónia tenha vivido na companhia da irmã Albertina, em Vessadios.



s
Registo do óbito de Dona Maria Telles aos 51 anos.

Segundo consta terão ido para o Brasil, anos mais tarde. Será verdade?
Sim, é verdade.  Em 8/11/1867, a irmã Albertina Teles, seu marido António Lopes do Nascimento, sobrinhos e criados e a própria Dona Antónia, então com 55 anos de idade, requereram passaporte e partiram para o Brasil,  tendo hipotecado seus bens, que foram executados pelo credor. Anos antes já tinha emigrado outros filhos daquele casal. Todos eles, incluindo os pais, começaram por fazer vida na região de Santa Rita de Sapucahí, Pouso Alegre, Cachoeira de Minas, no Estado de Minas Gerais. E deram aso a familias que atingiram notoriedade, porque alguns deles casaram com filhas de grandes fazendeiros da região, possuindo escravos.

Então sobre o pai de Maria dos Remédios, não existe nada de importante sobre de quem se trata e a causa do seu envolvimento?
Nada. Há testemunhos de pessoas,  que diziam de quem se tratava e  até existiria em casa da Dª Conceição, filha de Maria de Jesus, neta do Padre Domingos e Maria dos Remédios, que morava na casa do Bairro, casa essa onde também nasceu o Padre Ismael Vilela, uma espada, punhal ou objecto semelhante que pertenceria ao membro da família Canavarro.
Em poder de um outro membro da família existe um sinete que poderá esclarecer algumas dúvidas, mas não sabemos se isso é viável.
De resto, o único documento que existe e que é suportado por declarações feitas por Vicente Augusto Comba, um dos filhos da quarta filha do Padre Domingos e Maria dos Remédios, de nome Teresa Angélica. De facto, o Sr. Vicente do Picoto não teve receio em  atribuir o apelido Canavarro a Maria dos Remédios, quando do processo de partilha resultante do falecimento de seu tio e marido de Filomena Augusta Ribeiro, Joaquim Comba, conforme se pode constatar no documento seguinte:
Filomena Augusta Ribeiro, filha de pai incógnito e de Maria dos Remédios Canavarro, natural da freguesia e vila do concelho de Sabrosa. (Julgamos que poucos eram conhecedores de que Maria dos Remédios tinha sido registada  em Canelas, em cuja RODA da Igreja foi colocada e, em seguida baptizada

Que se sabe da quarta e quinta filhas de Maria dos Remédios?
Em 15/11/1854, nasceu em Bujões a 3ª menina, filha de Maria dos Remédios, sendo pela ordem sequencial o quarto filho a nascer.


Registo de baptismo de Theresa Angélica, filha natural de Maria dos Remédios, residente no lugar de Bujões desta freguesia de Abaças, neta materna de Donna Antónia da Vila de Sabrosa, nasceu aos quinze dias do mês de Novembro de mil oitocentos e cinquenta e quatro. Foi baptizada dia vinte e sete do dito mês e ano: Foram padrinhos José Roiz (Rodrigues) Vasques e Donna Teresa Angélica, da Vila de Aveiro. Pela madrinha tocou a baptizada o Rev. Abade (João da Silva Monteiro)


Há algo a salientar neste registo?
Pouca coisa. Apenas a confirmação de que a avó materna é Donna Antónia, da Vila de Sabrosa, que o padrinho é o mesmo de sempre e a madrinha é Dona Teresa Angélica, da cidade de Aveiro.
Esta Senhora era dona da Casa do Bairro que viria a ser vendida a José Júlio de Araújo Vilela, marido de Maria de Jesus Ribeiro de Araújo, a 2ª filha de Maria dos Remédios. Nessa casa, como já dissemos, viveu a Dª Conceição e ali nasceu o Padre Ismael e outros filhos daquele casal.


Quando nasceu a última filha de Maria dos Remédios?
Mãe de um rapaz e de quatro filhas, Maria dos Remédios deu à luz pela última vez em 21 de Outubro de 1863, dia em que nasceu Elvira, que passaria ser tratada por Elvira da Natividade.



Registo de baptismo de Elvira da Natividade,  filha legitima primeira deste nome, digo natural, de Maria dos Remédios, residente no lugar de Bujões, neta materna de Dona Antónia da Vila de Sabrosa e pelo lado paterno de pais incógnitos, aquela criada de servir, moradora neste lugar de Bujões, solteira.
Foram Padrinhos Manuel Avelino de Araújo Vilela e sua irmã Maria da Natividade de Araújo Vilela, ambos lavradores, solteiros, residentes em Vilarinho do Tanha.
Os padrinhos assinaram o registo.

Nota : O Padre João da Silva Monteiro, que baptizou todos os filhos de Maria dos Remédios, com excepção de Filomena que foi baptizada em Galafura, adianta sem qualquer propósito que ela era criada de servir... e fê-lo pela primeira vez. Uma neta de uma senhora da nobreza (Donna era um tratamento dado às senhoras das grandes familias ou  da nobreza), não  nos parece que justificasse ser tratada por criada de servir, a não ser que o Pároco de Abaças não tivesse gostado muito que o seu colega Padre Domingos Ribeiro de Araújo, de Bujões, tivesse demonstrado de uma forma tão clara a sua paixão pela mulher que amava presenteando-a com 5 filhos e fazendo testamento dos seus bens a favor deles, numa prova inequívoca de que a lei do celibato criada pelos altos magistrados da Igreja, reunidos no Concilio de Trento,  não eliminou o direito do homem se realizar como pai, persistindo ainda hoje a polémica sobre a razoabilidade de uma decisão que terá criado mais problemas do que aqueles que resolveu, tanto mais que Jesus chamou para junto de si, como seus seguidores, homens casados e aptos a pregar a realidade da vida.   



4. OS COMBAS

E como surgem os Comba nesta história? 
FILOMENA AUGUSTA, a 1ª filha de Maria dos Remédios e do Padre Domingos Ribeiro de Araújo, foi a primeira filha a casar tendo a cerimónia decorrido em Abaças, como era costume, presidida pelo Abade João da Silva Martins, que foi pároco da freguesia, desde 1840 a 1876. O noivo é Joaquim  Comba. Assim, deste modo, com a presença dos pais da noiva, surge o entrelaçamento de duas famílias - Os Comba e os Ribeiro de Araújo - .


Existem alguns elementos sobre quem era JOAQUIM COMBA, marido de FILOMENA AUGUSTA e seus ascendentes e descendentes?
Existem documentos sobre a família que viria a dar origem aos COMBAS, desde cerca de 1725.
Todavia, atentemos apenas ao essencial das pessoas que mais interessa destacar:

29/7/1766  - Baptismo em Alfarela de Jales, cerca de Vila Pouca de Aguiar, de JOSÉ ANTÓNIO MARTINS, que iria usar o nome de José Martins Escaleira ou José Martins Escallera, filho de Luis Martins e de sua mulher Ana de Macedo, neto paterno de Leonardo Martins e de sua mulher Isabel Monteira, de Alfarela, e neto materno de António Fernandes e de sua mulher Catharina de Macedo, do lugar da Filhagosa, freguesia de São Miguel de Trêsminas.

16/9/1798 -  Na Igreja Paroquial de Alfarela de Jales realizou-se o casamento de José Martins Escaleira com Delfina Margarida que viria no decurso da sua vida a usar também os nomes de Delfina Lameiras, Delfina Margarida Comba e Delfina Comba.
Tiveram  vários filhos entre os quais os seguintes:

12/8/1801 - Baptismo em Alfarela de Jales ANTÓNIO JOSÉ, que também usou o nome de ANTÓNIO JOSE OU ANTÓNIO COMBA. 
Casou em Bujões em 12/3/1836, com Teresa Bártolo que também usou o nome de Teresa Jesus, Teresa Messias,Teresa Lopes e Teresa Bértolo, filha de Joaquim Lopes e Maria José Bártolo, todos naturais de Bujões.

20/9/1807 - Baptismo em Alfarela de JOSÉ MARIA, que usaria também o nome de José.
Casou em Bujões em 16/9/1830 com Maria Lopes ou Maria Moreira, filha de Francisco Lopes e Mariana Moreira.

Nota: Estes foram os únicos filhos que deixaram descendentes.

16/2/1819 - Morre em Bujões com apenas 53 anos, José Martins Escaleira.

25/2/1826 -  Morre em Bujões MANUEL COMBA, solteiro, nascido em Alfarela em 5/3/1810, baptizado com o nome de Manuel José, sendo filho de José Martins Escaleira e Delfina Margarida.



A primeira vez que aparece o apelido COMBA num documento. Ninguém sabe a origem deste apelido, sendo diversas as conjecturas. O apelido apareceu pela primeira vez neste registo de óbito de MANUEL, um dos  cinco filhos de José Martins Escaleira e Delfina Margarida que não deixou descendentes. Houve mais 4 filhos daquele casal  que não deixaram descendentes.

17/1/1831- Processo de inventário de menores aberto por morte (já ocorrida há 12 anos atrás) de José Escalleira (José Martins Escaleira). Neste processo já consta  o nome de Delfina Margarida COMBA, como se pode observar na 1ª página do volumoso dossier documental.

                         1ª página do processo de inventário.



Então, qual foi a sequência de nascimentos dos dois filhos de José Martins Escaleira e Delfina Margarida que deixaram descendentes?
O António Comba,  casou com Teresa de Jesus, em 12/3/1836, e tiveram os seguintes filhos, nascidos em Bujões, dois deles antes do casamento:

 25/1/1831 -  Baptismo de JOAQUIM COMBA.
Casou em 21/1/1864, em Bujões, com Filomena Augusta Ribeiro de Araújo, filha do Padre Domingos Ribeiro de Araújo e Maria dos Remédios.
Joaquim Comba e Filomena Augusta Ribeiro de Araújo tiveram os seguintes 12 filhos:

1- Margarida da Conceição, nasceu em 22/1/1865.Faleceu num convento.
2-Guilhermina Adelaide Comba, nasceu em 1/10/1867: Teve 2 filhos naturais (Mário Comba,nascido em 20/1/1904 e Leocádia de Sousa Comba).
3-Gracinda, nasceu em 23/12/1871 e faleceu em 21/8/1874.
4-Manuel Comba Ribeiro, nasceu em 23/8/1875, casou com Augusta da Silva e tiveram os seguintes filhos: Mário da Silva Comba e António da Silva Comba
5-Maria Cândida Comba, nasceu em 3/8/1877. Casou em 20/6/1900 com Domingos Augusto Cardeal. Tiveram vários filhos, entre os quais os seguintes: António Augusto Cardeal, Maria de Jesus Comba Cardeal, João Augusto Cardeal e José Maria Cardeal.
6-José Comba Ribeiro, nasceu em 8/5/1879. Casou em 26/5/1905 com Luiza da Conceição Lopes. Tiveram os seguintes filhos: a) Manuel Comba Ribeiro, que casou em 4/12/1925 com Leocádia de Sousa Comba. Depois de enviuvar, voltou a casar.
b) Maria Ester Comba, nascida em 1909. Casou com António Alves Lopes e tiveram os seguintes filhos - José da Conceição Alves Comba- Olinto Alves Comba-Joaquim Comba Alves-Maria Delfina Comba Alves-António Comba Alves Lopes-Manuel Comba Alves Lopes. 
c) Maria da Conceição Comba ou Maria da Conceição Ribeiro Lopes, nasceu em em 19/6/1911. Casou com Manuel dos Santos Araújo (Manuel da Rosa) e tiveram os seguintes filhos: Manuel dos Santos Araújo-Alexandre Comba de Araújo-José Comba de  Araújo.
d) Joaquim Augusto Comba Ribeiro, nascido em 1913. Não deixou descendentes.
7-Albertina Comba Ribeiro ou Albertina de Jesus, nasceu em 15/4/1881. Casou em 20/3/1905 com João Botelho. Tiveram os seguintes filhos: Domingos Comba Botelho-Margarida Comba Botelho-Manuel Comba Botelho-Ilda Comba Botelho.
8-Gaspar Comba, nasceu em 23/4/1883. Casou com Maria da Silva Ribeiro.Não deixaram descendentes.
9-Caetano Comba, nasceu em 6/9/1885. Casou em 10/6/1909 com Clotilde das Dores: Tiveram as seguintes filhas: Maria Cândida Comba-Felisbela Comba-Filomena da Conceição Comba
10-António, nasceu em 17/10/1887.Faleceu em 1896
11-David Comba Ribeiro ou David Comba, nasceu em 20/8/1890. Da sua união com Ermelinda Penalva teve os seguintes filhos: António Penalva Comba - David Comba Ribeiro-Filomena Augusta Penalva Comba Ribeiro-Teresa Comba.
12-Ermelinda, nasceu em 25/6/1892 e faleceu em 1895. 


31/1/1835 - Baptismo de MARIA COMBA. Esta viria a casar em 9/8/1866, em Bujões, com João Alves Cardeal.

9/8/1866-Casamento de Maria Comba com João Alves Cardeal

Tiveram os seguintes filhos:
Domingos Augusto Cardeal, nascido em 2/4/1870
José Maria Cardeal, nascido em 7/7/1872, falecido em 4/9/1874
José Maria Cardeal,nascido em 2/9/1874, falecido em 26/5/1882
António Cardeal, nascido em 29/6/1877
Nota: Domingos Augusto Cardeal viria a casar com sua prima Maria Cândida Comba, filha de Joaquim Comba e Filomena Ribeiro, em 28/6/1900.



5/9/ 1837 - Baptismo de DOMINGOS COMBA
Casou em 27/11/1878, em Bujões,  com Teresa Angélica, filha do Padre Domingos Ribeiro de Araújo e Maria dos Remédios.
Nota : Um pouco mais adiante indicaremos os nomes dos descendentes deste casal.

28/2/1841 - Baptismo de DELFINA COMBA
Casou em Bujões em 4/8/1870 com Vicente Botelho, filho natural de Cândida Botelho.
Tiveram os seguintes filhos que agregaram o apelido do pai:
Francisco Botelho, nasceu em 12/4/1875.Casou com Isabel de Oliveira
Domingos, nascido em 10/12/1876
Maria, nascida em 5/6/1879
João Botelho, nascido em 4/6/1881. Casou com Albertina Comba. 

O outro filho de José Martins Escaleira e Delfina Margarida (Lameiras)  que teve descendentes, de nome JOSÉ MARIA, casou em Bujões em 16/9/1830 com Maria Lopes ou Maria Moreira, filha de Francisco Lopes e de Mariana Moreira. Foram pais dos seguintes filhos:

13/8/1832 - FRANCISCO. Faleceu em 1845.

2/4/1834 - MARGARIDA COMBA que também aparece em registos como Margarida Lopes Moreira.
Casou em 29/4/1849 (com pouco mais de 15 anos) com DOMINGOS DE FIGUEIREDO, filho de José de Figueiredo e Luiza Relvas.
Tiveram os seguintes filhos:
Francisco, nascido em 22/11/1854
Maria Eufrásia, nascida em 2/4/1859
Maria Eufrásia, relembramos, filha de Domingos de Figueiredo e de Margarida Comba, casou em 4/2/1878 com José Dionísio Ribeiro de Araújo. Ficou viúva muito cedo, em 3/11/1901, mas ela só deixou este mundo em 15/9/1948, tendo sido mãe de 13 filhos, como mais adiante podem constatar.

Aqui deixamos de novo as fotos desses dois inesquecíveis bujoenses:
José Dionísio Ribeiro de Araújo
Maria Eufrásia Figueiredo



Quanto a FRANCISCO de FIGUEIREDO, filho de Domingos de Figueiredo e de Margarida Comba, neto pela parte paterna de José de Figueiredo e de Luísa Maria e pela parte materna de José Maria Comba e Maria Moreira, casou no dia 27/1/1878 com Antónia da Conceição, nascida em Adoufe em 27/12/1859.
Foram pais de vários filhos, entre os quais VICENTE AUGUSTO DE FIGUEIREDO.
Este, nascido em Bujões em 17/1/1880, casou em 17/1/1907 com Maria das Dores Ribeiro de Araújo, nascida em Bujões em 19/6/1889, irmã do sr. Araújo e filha de José Dionísio e Maria Eufrásia. Do casamento entre Vicente Augusto Figueiredo e Maria das Dores Ribeiro de Araújo nasceram os seguintes filhos:
Maria José de Araújo Figueiredo
José de Araújo Figueiredo ( 24/7/1913)
Nota: Este blogue espera oportunamente publicar uma página sobre José de Araújo Figueiredo, nascido em Bujões e uma das figuras mais prestigiadas que vieram ao mundo na nossa aldeia. Esperamos que seu filho avance com essa página, não é assim Oh gente de Bujões! ? ou melhor dizendo Oh gentes de Coimbra!

E que sucedeu entretanto ao Padre Domingos Ribeiro de Araújo?
Em 9 de Maio de 1876 faleceu em Bujões o Padre Domingos Ribeiro de Araújo que deixou testamento escrito nos seguintes termos, efectuado em 11/8/1875. 
Saibam quantos este testamento e disposição de última vontade virem, que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e setenta e cinco, aos onze do mês de Agosto do dito ano, neste lugar de Bujões, que é da freguesia de Abaças, e deste julgado de Vila Real e casas da morada do Reverendo Domingos Ribeiro de Araújo, Presbítero, onde eu Escrivão vim a seu rogo, aqui perante mim e as cinco testemunhas idóneas e adiante nomeadas e no fim assinadas, compareceu o referido Reverendo Domingos Ribeiro de Araújo, em bom estado de saúde o qual tanto eu tabelião como as referidas cinco testemunhas conhecemos pelo próprio e nos certificamos todos de que estava no seu perfeito juízo, claro nos pensamentos e livre de toda e qualquer coacção de que tudo dou fé, bem como de reconhecer a identidade das referidas cinco testemunhas, foi dito, que faz o seu testamento e disposição de última vontade pela maneira seguinte: Dispondo de bens espirituais, disse que era Cristão, Católico Romano e que nesta crença tem sempre vivido e protesta morrer.
Nem quando falecer quer que seu corpo seja envolto com os seus hábitos. Ele readiz é que o seu funeral seja feito segundo o uso e costume de sua freguesia e qualidade de suas pessoas – Que para sufragar as almas de seus falecidos pais, quer que lhe mandem dizer duas missas, uma por cada um. Dispondo dos bens temporais disse que visto não ter herdeiros legitimários deixa todos os seus bens mobiliários e imobiliários aos cinco filhos naturais de Maria dos Remédios residente neste lugar de Bujões e que são os seguintes: Filomena Augusta, Maria de Jesus, Teresa, José Dionísio e Elvira da Natividade aos quais deixa os bens seguintes:

A FILOMENA AUGUSTA: Deixa a propriedade da Estalagem do caminho para cima e matas do Salgueiro.
A MARIA DE JESUS: Deixa a propriedade da Estalagem que está do caminho para baixo e a outra denominada do Felizardo, a propriedade das Núbias e as matas de S. Domingos e Sapateiro.
A TERESA: Deixa a terça parte da vinha das Várgias, sita no Serro do Gato, a metade da vinha do Picoto, e a metade da mata da Serra.
A JOSÉ DIONISIO: deixa as suas casas sitas neste lugar e em que vive, com todos os móveis que dentro das mesmas se encontrarem ao tempo do seu falecimento, com a condição, porém, de que sua mãe MARIA DOS REMÉDIOS, e suas irmãs Teresa e Elvira, poderão todos viver juntos enquanto lhes aprouver nas mesmas casas e na companhia do dito José Dionísio e enquanto solteiras forem porque se casarem aquela que o fizer, perderá o direito de viver e residir com ele nas mesmas casas. Deixa mais ao dito José Dionísio: Uma vinha chamada Costa da Várzea, no sitio do Picoto, com seu campo pegado já plantado de vinha, o Lameiro com seu olival pegado chamado Regada e uma mata de pinheiros chamada do Vale Nogueira, a vinha dos Chãos, e, finalmente a 3ª parte da vinha das Várgias, sita no Serro do Gato
A ELVIRA DA NATIVIDADE, a metade da vinha do Picoto, não compreendendo a vinha da Costa da Várzea, sita no mesmo Picoto, a terça parte da vinha das Várgias no Serro do Gato, a metade da mata da Serra e, finalmente a oliveira com seu terrado no sítio da Presa. Assim o disse, sendo testemunhas a todo este acto:
BENTO ALVES MOREIRA, ANTÓNIO LOPES MECIAS, JOSÉ PEREIRA TIAGO, GASPAR DOS SANTOS e ANTÓNIO JOAQUIM BOTELHO

De assinalar que, neste testamento, o Padre Domingos reafirma que não pretendia ser sepultado com os seus hábitos, mas sim apenas de acordo com o uso e costume da sua freguesia.
Desceu à tumba como homem comum, e deixou todos os seus bens aos próprios filhos que não eram, pelo simples facto de ele ser sacerdote e não se poder casar, seus herdeiros legitimários. Salvaguardou o direito da mãe e irmãs solteiras a viverem em sua casa, herdada por José Dionísio. Teresa acabou por casar e perdeu esse direito. Este gesto nobre e a decisão quanto aos direitos daquela que foi sua mulher e mãe dos seus filhos, são mais do que suficientes para se confirmar que o Padre Domingos foi em vida, sacerdote, marido e pai, um grande bujoense que desceu à tumba de forma humilde e simples, facto que até resulta do documento elaborado pelo pároco da freguesia que acaba por confirmar que o seu colega deixou filhos, testamento, mas manteve que Maria dos Remédios era creada! Coisas! 




Registo de óbito 
Aos nove dias do mês de Maio de mil oitocentos e setenta e seis anos, nesta Igreja Paroquial de São Pedro de Abaças, Concelho de Vila Real, Diocese de Braga, faleceu tendo recebido os Sacramentos da Santa Igreja, um indiduo do sexo masculino, por nome Domingos Ribeiro de Araújo, de idade de setenta e oito anos, natural do lugar de Bujões, filho legítimo de Manuel António Ribeiro e Anna Maria, lavradores, o qual houve filhos de hua creada aos quais lhe  deixou seus Bens por escritura testamentária e foi sepultado no Cemitértio da Freguesia...


E já agora, por fim,  o que sucedeu a Maria dos Remédios?
Maria dos Remédios viveu ainda vários anos na companhia de seu filho JOSÉ DIONÍSIO. Entretanto,  decorridos quase 25 anos após a morte do Padre Domingos, Maria dos Remédios faleceu em 14 de Fevereiro de 1901. Como adiante saberemos, faleceu também em 3 de Novembro desse ano o seu filho José Dionísio Ribeiro de Araújo, com apenas 49 anos de idade, estando sua esposa, Maria Eufrásia de Figueiredo ainda grávida do último dos 13 filhos gerados pelo casal e que nasceu em 31 de Março de 1902, cinco meses após a morte do pai e pouco mais de um ano passado da morte da avó paterna, sendo baptizado com o nome do pai que nunca conheceu.




"Aos quatorze dias do mês de Fevereiro, de mil novecentos e um, às onze horas da manhã, no lugar de Bujões, d´esta freguesia de São Pedro de Abaças, concelho de Vila Real, Diocese de Lamego, faleceu, tendo recebido os sacramentos da santa madre Igreja, um individuo do sexo feminino por nome Maria dos Remédios, d`idade de setenta e três anos, solteira, lavradora, natural da Vila de Sabrosa, moradora no lugar de Bujões, desta freguesia de Abbaças, filha natural de Dona Antónia da Vila de Sabrosa, a qual não fez testamento, deixando filhos naturais e foi sepultada no cemitério público..."

Este documento não deixa de ser importante na medida em que reconhece que Maria dos Remédios é filha natural de Dona Antónia da Vila de Sabrosa, faltando apenas  indicar qual o restante nome de Dona Antónia. Do mal o menos, porque ficou esquecido que Maria dos Remédios foi abandonada na Roda de Canelas, sem indicação de pais, tratando-se de uma criança enjeitada ou exposta.



                                                                **************


Voltando aos casamentos dos filhos de Maria dos Remédios e do Padre Domingos Ribeiro de Araújo, falta continuar agora com a 2ª filha, MARIA DE JESUS, que nasceu em 12 de Março de 1849, no primeiro registo feito pelo pároco e, em 9 de Março, no 2º registo.

Maria de Jesus casou em 26/7/1871 com JOSÉ JÚLIO DE ARAÚJO VILELA, natural de Vilarinho do Tanha, conforme consta do documento que se segue. As testemunhas presentes foram António Botelho Moutinho,que já havia sido padrinho de baptismo, e o irmão da nubente José Dionísio d`Araújo Vilela (o correcto deveria ter sido José Dionísio Ribeiro de Araújo).




Registo do casamento de José Júlio de Araújo Vilela e
de Maria de Jesus

Este casal teve os seguintes filhos:

MARIA DA CONCEIÇÃO, nascida em 23/4/1872. Faleceu em 19/1/1958. Morava na Casa do Bairro.Solteira.
ISMAEL JOSÉ, nascido em 23/11/1873. O filho mais conhecido por ter sido sacerdote.
ARTHUR, nascido em 20/5/1875. Faleceu em 20/12/1881
MARIA VIOLANTE, nasceu em 3/8/1876.
Faleceu em 18/9/1877
MARIA DA GLÓRIA, nascida em 5/2/1878 . Foi professora e está sepultada em Macedo de Cavaleiros.
MANUEL AVELINO, nascido em 7/9/1879. Professor, emigrou para o Brasil (requereu passaporte em 118/4/1893) tinha, então, 12 anos. Chegou a director do jornal JAGUARIBÉ-ARACATU-CEARÁ-BRASIL. Faleceu no Brasil.
JOAQUIM, nascido em 3/4/1881.Faleceu em 17/1/1882
VIOLANTE MARIA, nascido em 16/9/1887. Faleceu em 23/5/1889.
LUÍS GUILHERMINO, nascido em11/2/1889. Faleceu em 5/10/1907 em Bujões quando cumpria o serviço militar como soldado do R.Infantaria 13 de Vila Real . Estava de licença.

JOÃO JOSÉ DE ARAÚJO VILELA, ou somente José de Araújo Vilela, terá nascido em Bujões, mas não temos elementos sobre nada da sua vida. Dizem que emigrou e faleceu no Brasil.

Há alguma coisa de relevante na história deste casal?
Em primeiro lugar, haverá que referir o facto de terem morado na casa do Bairro, onde os mais velhos ainda recordam a Dona Conceição (a 1ª filha) já com bastante idade, muitas vezes debruçada numa das janelas e que era sempre cumprimentada com reverência e muito respeito pelos bujoenses.
Ouvia-se falar que tinha tido um irmão Padre, o Padre Ismael, que faleceu em 1938, em Barcos, mas pouco se sabia dele.
Sobre estes personagens (Maria de Jesus Ribeiro de Araújo Vilela, José Júlio de Araújo Vilela, Manuel Avelino e Padre Ismael José), já publicou este blogue na página RETRATOS DA FAMÍLIA RIBEIRO DE ARAÚJO fotos e algum histórico das suas vidas e até dos  3 filhos do Padre Ismael.
Este casal teve a preocupação de educar os filhos e sem dúvida que o mais prestigiado deles, pela sua cultura, foi o carismático Padre Ismael que, curiosamente, foi pároco em Vilarinho dos Freires, antes de Barcos-Tabuaço, onde era muito querido pela população.
Apresentamos de seguida o documento da compra da casa do Bairro por José Júlio de Araújo Vilela à sua proprietária de então. E conheçam algumas particularidades curiosas:

a) Em 23/4/1800, nasceu em Bujões TERESA ANGÉLICA RODRIGUES DE CARVALHO, filha de Alexandre Rodrigues e Dª Maria Rodrigues de Carvalho Vilela.

b) Em 15/12/1821, realizou-se o casamento na Capela de Nossa Senhora da Conceição, em Bujões, de JOSÉ ANTÓNIO DA CRUZ MENDES TABORDA, filho de Domingos José Manuel da Cruz Mendes Taborda e Dona Maria Inácia de Figueiredo Carvalho Esteves, todos da freguesia de Vera Cruz,da cidade de Aveiro, com Dona TERESA ANGÉLICA RODRIGUES DE CARVALHO.

c) Em 28/2/1865, Dª TERESA ANGÉLICA RODRIGUES DE CARVALHO, viúva, moradora no lugar da Esgueira, concelho de Aveiro, através do seu procurador Bento Fortunato de Moura Coutinho Almeida d`Eça, Tenente de Engenharia, Director das Obras Públicas no Distrito de Vila Real, vendeu a sua casa no Bairro a António de Azevedo Roios, de Bujões.

d) Em 16/11/1872, nova venda da mesma casa, que presumivelmente não viu confirmada a primeira transacção, sendo executada a hipoteca com que estava onerada, uma vez que na escritura intervém como vendedora DONA TERESA ANGÉLICA DE CARVALHO TABORDA, por herança de sua tia  Dona Luciana Augusta Godinho da Silveira Soares de Albergaria (conforme documento seguinte), sendo desta vez como comprador José Júlio de Araújo Vilela:


...casas telhadas e sobradadas com seu quintal ... no sitio do bairro...nascente estrada pública e poente com Padre Domingos Ribeiro de Araújo...





Nota: Desta leitura se deduz que a casa do Bairro confrontava a nascente e a norte  com a estrada publica, isto é os caminhos públicos que ainda hoje existem, e a poente com o Padre Domingos Ribeiro de Araújo. A sul confrontava com Francisco de Oliveira.

O 3 º filho de Maria dos Remédios, José Dionísio Ribeiro de Araújo, que também aparece em documentos com o último apelido Vilela, casou em Bujões? Que se sabe acerca da família a que deu origem?
Esta é uma família que os mais velhos de Bujões ainda recordam alguns dos seus membros, mas comecemos pelo principio:
José Dionisio Ribeiro de Araújo nasceu em Bujões em 9 de Outubro de 1852, conforme documento que já acima deixámos cópia.
Em 8 de Julho de 1877, José Dionisio Ribeiro de Araújo e Maria Eufrásia de Figueiredo  foram padrinhos de baptizado de  um bujoense, a quem foi dado o nome de José Dionísio, filho de José Cardoso e Filomena Júlia. O nome terá sido escolhido pelo padrinho. Os padrinhos eram ambos solteiros, pelo que não será de admirar que já namorassem nessa altura ou que tivesse nascido aqui a paixão...
Com efeito, casaram ambos em 4 de Fevereiro de 1878.

E quem era afinal a noiva?
Maria Eufrásia tinha quase 19 anos quando casou, porquanto nasceu em 2/4/1859, e era filha legítima de Domingos Figueiredo e Margarida Comba, também indicada nalguns documentos como Margarida Lopes Moreira, neta pela parte paterna de José de Figueiredo e Luísa Maria Relvas e materna de José Maria Comba e Maria Lopes. Ou seja, Margarida Comba, mãe de Maria Eufrásia, nasceu em 2/4/1834 e casou  com 15 anos.
Maria Eufrásia faleceu em 15/9/1948. O nome é igual ao da madrinha, que era natural de Soutelinho.

                
4/2/1878 -Registo de casamento entre JOSÉ DIONISIO RIBEIRO DE ARAUJO VILELA (o noivo  não assina o apelido Vilela)) e MARIA EUFRÁSIA DE FIGUEIREDO (deveria ser Maria Eufrásia Comba Figueiredo)


Que filhos houve deste casamento?
Houve muitos, concretamente 13 filhos, todos nascidos em Bujões  e alguns bem conhecidos, apesar de já terem falecido há muitos anos. Senão, vejamos:
MARIA  SOLEDADE RIBEIRO DE ARAÚJO, nasceu em 23/11/1878. Casou com Augusto Botelho de Carvalho. Faleceu em 10/1/1953.
PALMIRA DA CONCEIÇÃO RIBEIRO DE ARAÚJO, nasceu em 29/2/1880, faleceu em Famalicão em 2/4/1965 (no registo de baptismo consta como Belmira)
ELIZA, nasceu em 18/4/1881 e faleceu em 6/2/1882
ARTUR RIBEIRO DE ARAÚJO, nasceu em 10/11/1882 e faleceu em 23/4/1963. Casou em 24/1/1967 com Dª Maria da Luz Monteiro Guimarães. Não tiveram filhos. Já tem um historial na página do blogue Retratos da Familia Ribeiro de Araújo.
DOMINGOS,nasceu em 6/9/1884 e faleceu em 21/12/1888
ANTÓNIO RIBEIRO DE ARAÚJO, nasceu em 3/10/1886. Faleceu em 30/12/1951.
MARIA DAS DORES RIBEIRO DE ARAUJO (por vezes o registo indica os apelidos de forma alternada Araújo Ribeiro), nasceu em 19/6/1889, casou em 17/1/1907 com Vicente Augusto Figueiredo.
DOMINGOS RIBEIRO DE ARAÚJO, nasceu em 8/3/1891. Casou em 19/4/1922 com D. Maria Máxima de Azevedo Araújo. Faleceu em Galafura em 25/7/1972. Já está em destaque na página do blogue Retratos da Família Ribeiro de Araújo
JERÓNIMO, nasceu em 6/5/1893. Faleceu em 28/10/1895.
JAYME, nasceu em 1/7/1895. Faleceu em 30/11/1895.
GLÓRIA RIBEIRO DE ARAÚJO, nasceu em 29/4/1897. Casou em 16/5/1918. Faleceu em 4/2/1970.
ALCINA ALICE RIBEIRO DE ARAÚJO, nasceu em 25/10/1899. Casou em 25/9/1932 com o Dr. Jorge Alves de Sá. Faleceu em 10/5/1986.
JOSÉ DIONÍSIO RIBEIRO DE ARAÚJO, nasceu em 31/3/1902, já depois de o pai ter falecido.

 
Quais os elementos desta família que tiveram maior notoriedade?
Antes de mais importará referir que os elementos da família mais conheicidos dos bujoenses são o Sr. Artur Ribeiro de Araújo e sua esposa Dª Maria da Luz que tiveram como caseiros durante muitos anos o Sr. José Cardeal e a Dona Argentina, felizmente ainda hoje viva. Eles tinham um cão, o Bobi, que também muita gente ainda recorda. Este casal não teve filhos e a casa de Bujões servia muito para reuniões de família e aí se faziam alguns banquetes. O que mais visitava Bujões, era o irmão do Sr. Araújo, o Sr. Dominguinhos (Domingos Ribeiro de Araújo) que casou e vivia em Galafura.
Depois são ainda lembradas as professoras desta família, que encontraram na educação uma forma nobre de se destacarem e chegaram a dar aulas em Bujões, Vilarinho do Tanha e noutros locais. O Rio de Janeiro, Brasil, foi a cidade onde tiveram o seu negócio e vários dos irmãos ali trabalharam e prosperaram, tendo efectuado alguns deles, em especial o Sr. Araújo, muitas viagens às terras do antigo império do Brasil.
Quando faleceu o Sr. Araújo e, anos mais tarde, a Dª Maria da Luz,  iniciou-se o processo complexo da partilha de bens e a Casa Grande bem como a Socarreira acabaram por ficar na família, mas desta vez em descendentes dos COMBA, que só agora se sabe com mais pormenor das suas ligações e afinidades com os Ribeiro de Araújo, mas que viviam de certa forma afastados, talvez devido ao "mistério" das suas raízes comuns.

 
Uma vez que a última filha do Padre Domingos Ribeiro de Araújo e de Maria dos Remédios, Elvira da Natividade, não teve descendentes, falecendo solteira, falta referir a outra filha TERESA ANGÉLICA. Que interessa destacar da vida desta bujoense?
Como já referimos, ela nasceu em 15/11/1854 e viria a casar em 6/7/1878 com DOMINGOS COMBA.
Tiveram vários filhos, como segue:
ARMINDA COMBA, nasceu em 31/1/1881
Emigrou para o Brasil em 1909  e faleceu em 2/2/1950
MARIA, nasceu em 31/1/1881 (irmã gêmea de Arminda). Faleceu em 24/1/1882
MARIA DA CONCEIÇÂO, nasceu em 4/11/1882 e faleceu em 6/7/1884
JOÃO COMBA, nasceu em 4/8/1884. Casou com Maria Carolina Guedes em 5/9/1910. Emigrou para o Brasil em 1909, mas depressa regressou, voltando de novo em 1913. Faleceu em 1975. Ficou conhecido pelo nome de tio João Pequenino. Tiveram os seguintes filhos: Francisco Comba, Jaime Comba, Maria Bernardina Comba, Deolinda Comba, Maria da Graça Comba e Domingos Comba 
MARIA DAS DORES, nasceu em 14/7/1886 e faleceu em data desconhecida.
VICENTE AUGUSTO COMBA, nasceu em 29/9/1887. Casou com Maria Luísa Barbosa em 5/1/1918. Tiveram os seguintes filhos: Maria Teresa Comba, Maria Constança Comba, Miquelina Comba, Francisco Comba,Fernando Comba, Domingos Augusto Comba, Vicente Comba,José Augusto Comba e Heliodoro Salgado Comba. O sr. Vicente do Picoto, como ficou conhecido, tem uma página na primeira edição deste blogue intitulada: Vicente Augusto Comba: Um republicano convicto.
LAURA, nasceu em 17/4/1889 e faleceu em 13/1/1895
DELFINA DE JESUS, nasceu em 3/3/1891. Faleceu em 22/10/1896
FRANCISCO, nasceu em 1893 e faleceu em 13/12/1895
FRANCISCO COMBA, nasceu em 10/10/1896 e faleceu em 13/2/1952

UMA ÚLTIMA FRASE
Falta apenas referir as gerações mais recentes, e essa tarefa não é fácil, e só poderia ser levada a cabo  com a colaboração de todos os descendentes desta família imensa iniciada pelo Padre Domingos Ribeiro de Araújo e Maria dos Remédios.
Uma coisa é certa. Quando um dia, conta-se, o Jaime Comba fez um pequeno corte numa mão e se queixava do sangue a escorrer, mas que não era caso para a apreensão que manifestava, ao ponto da mulher o censurar por isso. Então, ele, proferiu uma frase que hoje cai que nem uma luva nesta história toda " CALA-TE MULHER! AQUI HÁ SANGUE COMBA!
E não haja dúvida alguma que os COMBA nem sempre aparecem como os protagonistas principais, mas eles misturaram o seu sangue com os mais famosos personagens da nossa aldeia e, portanto, o Jaime, que ainda conheci, falou bem na sua simplicidade tão peculiar... Aqui há sangue Comba!  E que sangue!


Agosto de 2013.




6 comentários:

  1. Sr. Ventura

    Nesta manhã de Agosto, pelas terras minhotas de Guimarães, redescubro o seu labor em torno da história de Bujões.

    Um obrigado e um abraço,

    Domingos de Araújo Machado

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  2. Obrigado Sr. Dr. Domingos de Araújo Machado. Já imaginou se à precisão dos factos constantes dos documentos tivesse eu o brilhantismo da sua escrita? Bom, ainda falta tanto a esta história que o que não falta é entusiasmo para aos poucos ir completando, nem que seja para um único leitor! Um abraço do
    José Ventura Paula e saudações a seus pais.

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  3. Sou bisneta de Antonio Comba Martins, filho de Mariano Comba e Maria Martins Ruy. Gostaria de manter contato com eventuais parentes.
    Facebook: Terezinha Araujo Comba (São Paulo - Brasil)

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    1. Para facilitar um contato diga-me por favor pelo meu email jvpaula@netcabo.pt se considera que a sua relação familiar tem raízes aqui em Portugal e,. nesse caso, com estes COMBA que se expandiram pelo Mundo a partir de Bujões. Temos vários Comba aí em S.Paulo, mas não faço ideia se frequentam o Facebook. Nós não, Mas fico disponível para a ajudar nesse contacto com eventuais familiares daqui e daí.

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  4. Boa noite. Antes de mais, parabéns pelo seu blogue. Tenho um sobre Canelas, no concelho do Peso da Régua: https://canelasdodouro.blogs.sapo.pt/

    Fiquei curiosa com a informação sobre a roda dos expostos. Poderia indicar-me as fontes que consultou?

    Muito obrigada.

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    1. Olá Fátima Mariano. Prometo que vou dar uma olhadela no seu blogue. O meu tem estado parado embora eu tenha ainda milhares de documentos para publicar, mas não há tempo para tudo. Canelas, como muitas terras, aldeias, vilas e cidades, teve a sua RODA dos Expostos ou Enjeitados onde foram abandonadas milhares de crianças. Por exemplo, nos livros Paroquiais, que estão todos ou quase todos disponíveis no site do Arquivo Distrital de Vila Real, poderá encontrar os registos dos batismos dessas crianças e por exemplo na Paroquia de São Dionísio de Vila Real, durante muitos anos (veja por exemp. 1837/1840) eram os nomes registados em livros de registos de batismo em separado. São imensos os livros e milhares as crianças assim baptizadas retiradas das Rodas por AMAS que dormiam dentro da Igreja e onde uma sineta alertava para mais um drama que é uma vergonha dificil de aceitar
      Se quiser saber alguma coisa em pormenor pode consultar-me para o meu email jvpaula@netcabo.pt ou pelo telefone 961119894. Eu sou de Covelinhas, mas meu pai,musico invisual de Bujões, frequentou muito Canelas e ficava na casa dos LACERDAS, família que ainda hoje é certamente conhecida já não como famosos militares, mas sim como lavradores ligados ao vinho.

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