A HISTÓRIA DO PADRE DOMINGOS RIBEIRO DE ARAÚJO - UM POUCO MAIS DE LUZ...






Na página com o título MARIA DOS REMÉDIOS-UMA HISTÓRIA...MUITOS ENIGMAS, expusemos  a maioria dos factos relacionados com alguns personagens que deixaram marca na história da nossa aldeia. Enigma e romance são palavras que se enquadram e espelham a vida de vários personagens e que poderiam dar aso a um bom livro ou telenovela com sucesso garantido. Porém, muito ainda faltará descobrir, se bem que o mistério ou o suspense sejam elementos que não deixam de ter redobrada importância, como fonte de conjeturas e asas para deixar voar a imaginação!
De resto, qualquer investigação sobre factos do passado não é fácil porque são muitos os caminhos a percorrer e vários documentos a consultar, quando existem, e eles nem sempre são esclarecedores. A experiência diz-nos que ao abrir-se uma pesquisa, esta é como se fora um círculo que só se considera encerrado quando as duas pontas desse circulo se encontrarem. Se assim não for, existirá sempre a possibilidade de surgirem novos dados, novas surpresas. Pequenos avanços que se alcancem, permitem quase sempre uma maior e melhor compreensão de alguns factos porventura ainda por esclarecer cabalmente, mesmo que já constantes de articulado escrito. Para não alterarmos nada do que já escrevemos na página acima referida, passamos a referir um conjunto de dados que obtivemos e que aproximaram um pouco mais as duas pontas do circulo, trazendo mais luz a esta intrigante história tão cheia de dúvidas e algumas surpresas. Senão vejamos, revendo, alguns aspetos que são como uma fonte da qual brota água para alimentar esta história na qual o Padre Domingos Ribeiro de Araújo se apresenta como o actor principal, a figura no centro dos acontecimentos, ao lado da personagem mais misteriosa e controversa - Dona Antónia Teles, de Sabrosa.

Quem eram efetivamente os pais do Padre Domingos?

De onde provém o apelido Araújo usado pelo Padre Domingos?

Quem é José Roiz Vasquez ou José Rodrigues Vasques, que foi padrinho dos quatro primeiros filhos de Maria dos Remédios e do Padre Domingos?

Existia naquela época alguma relação entre as prestigiadas famílias Lacerda, de Canelas, e Canavarro, de Sabrosa, ou mesmo dessas famílias com a família de Dona Antónia Teles, cujo irmão Afonso Botelho, residia na Presegueda?

Em que condições viveu Maria dos Remédios após a morte do Padre Domingos? Será que houve algum contacto dela com a família Lacerda?

Quem foram os intervenientes no batismo de Maria dos Remédios e quem era a família de Dona Antónia Teles?

Etc... etc..

Comecemos, então, a verificação de alguns documentos que ajudarão a fazer um pouco de luz...


Manuel António Ribeiro, pai do Padre Domingos Ribeiro de Araújo, nasceu em Vessadios em 1 de Janeiro de 1744.  


A análise atenta de alguns documentos não deixa de nos surpreender com algumas coincidências que, no fundo, são os tais pequenos passos que permitem ir avançando no fecho do tal circulo que sempre se abre, quando algo se procura.
De notar que Manuel António Ribeiro, nasceu em Vessadios. Deste local, mais de um século depois, se ausentaria para o Brasil, Dona Antónia Teles, ali residente com sua irmã Albertina e a família desta - marido e filhos. Curioso, também, o facto de o padrinho, António Villella, ser residente na Magalhã, pertencer à família Villella, uma vez que, muitos anos mais tarde, o Manuel viria a casar em segundas núpcias (por ter enviuvado) com  Ana Maria Villella.
De facto, a família Villella, que passaremos a referir com a grafia atual de Vilela, tinha o seu epicentro em Vilarinho do Tanha, mas existiam diversos membros dessa família residentes nas aldeias da freguesia e noutras, tanto mais que cada casamento, cada montão de filhos, como era então hábito. Vejamos um pouco desse historial:

JOÃO VILELA, filho de JOÃO VILELA e de MARIA ESTEVES, ambos de Vilarinho do Tanha, nasceu em 15 de Maio de 1727.
Casou em 7 de Abril de 1755 com MARIANA RODRIGUES, filha legitima de Baltazar Rodrigues e de Antónia Alves, do lugar de Fontelo.

JOÃO VILELA e MARIANA RODRIGUES tiveram vários filhos, entre os quais os seguintes, todos nascidos em Vilarinho do Tanha:

ANA MARIA, nasceu em 26/12/1758
MARIA, nasceu em 3/10/1761
JOANA, nasceu em 12/3/1764
MANUEL, nasceu em 27/12/1767
FRANCISCO, nasceu em 12/4/1769
MANUEL, nasceu em 1/5/1772 . Este casou em 26/11/1797.
ANTÓNIA, nasceu em 24/3/1776
JOSÉ, nasceu em 12/2/1778
BALBINA do CARMO, nascida em? Casou em 9/5/1799.

Falemos um pouco de JOSÉ, nascido em 12/2/1778, porquanto ao casar em Vilarinho do Tanha em 11 de Junho de 1820 com VIOLANTE MARIA, nascida em 8 de Novembro de 1803, deixará esclarecido o facto de o apelido Araújo, utilizado pelo Padre Domingos Ribeiro de Araújo, ser proveniente de sua mãe, ANA MARIA, irmã de JOSÉ DE ARAÚJO VILELA, conforme atesta o documento seguinte:


Este documento de 11 de Junho de 1820 atesta o casamento de José de Araújo Vilela com Violante Maria, permitindo desde logo concluir o seguinte: quer ele, quer seus irmãos, poderiam utilizar os apelidos Araújo Vilela, pelo que ANA MARIA, nascida em 26/12/1758 e que viria a casar com Manuel António Ribeiro, após o falecimento da primeira mulher deste, teria como nome completo ANA MARIA DE ARAÚJO VILELA. Esta viria a ser a mãe do Padre Domingos Ribeiro de Araújo. Portanto, fez-se luz sobre a razão de aquele apelido e até o apelido Vilela aparecerem em alguns documentos em que o Padre Domingos interveio.


JOSÉ DE ARAÚJO VILELA E VIOLANTE MARIA tiveram os seguintes filhos:

Maria da Natividade, nascida em 12/3/1822 
António, nascido em 11/1/1825 
Maria,  nascida em 17/12/1825
Luís, nascido em  25/3/1830  * batizado pelo Padre Barbosa, de Bujões.                                    
Joaquim, nascido em 8/10/1831
Rosa,  nascida em 21/3/1834
Francisca,  nascida em 22/2/1839
Maria, nascida em 24/1/1840 * Padrinho: Padre Domingos
Manuel, nascido em 22/4/1843
José, nascido em 11/6/1845   * Este é José Júlio de Araújo Vilela, não se fazendo a mínima ideia porque usava o nome de Júlio, mas isso também era uma situação vulgar. Viria a casar em 26 de Julho de 1871 com Maria de Jesus de Araújo Vilela, então com 23 anos.
Quando o último filho de José de Araújo Vilela e Violante Maria nasceu, o primeiro tinha 67 anos e a segunda tinha 42 anos. Sem dúvida que pai e mãe "lutaram" até ao fim! 



MORTE DO PAI DO PADRE DOMINGOS
Já dissemos que o pai do Padre Domingos ficou viúvo, mas vejamos a sequência dramática dos acontecimentos que vão levar a que seu filho DOMINGOS fique sem a companhia do pai aos 14 meses de idade. Órfão, um bebé ainda, Domingos irá entretanto ter como padrasto uma das figuras incontornáveis desta história, conforme os diversos acontecimentos ocorridos nas seguintes datas:
2/12/1782 -  Manuel António Ribeiro, então com 38 anos de idade, casou em Bujões com Ana Luísa de Figueiredo. 
10/7/1790 - Ana Luísa de Figueiredo faz testamento em que nomeia o marido como testamenteiro e, por morte deste, uma vez que não tinham filhos, seriam herdeiros os seus sobrinhos. Pelas disposições testamentárias, conclui-se que além de criada, dispunham de diversos bens entre os quais o prédio da REGADA, e uma grande preocupação em que, após a morte, lhe fossem rezadas muitas missas (mais de duzentas) por sua alma e da mãe. 
11/8/1795- Ana Luísa de Figueiredo morre inesperadamente (de repente, como diz o registo) no sítio da Granja-Vilarinho de Freires. A Granja situava-se no mesmo local onde existia o Convento dos Frades da Ordem de Malta, bem cerca da Presegueda. Não sabemos a razão porque ali faleceu, mas quanto ao testamento era muito vulgar na altura a existência desses documentos.
8/8/1796 - Manuel António Ribeiro, ainda não decorrera um ano de viuvez, casa com Ana Maria de Araújo Vilela, ele com 52 anos e ela com 38 anos.
2/6/1798 - Nasce em Bujões DOMINGOS o primeiro e único filho do casal.
31/8/1799 - Morre em Bujões Manuel António Ribeiro, com 55 anos de idade, pouco depois de decorrer o terceiro aniversário do seu segundo casamento. O filho, Domingos, fica órfão de pai. Deixa testamento em que institui seu filho como herdeiro, nomeando testamenteiro seu sogro José de Araújo Vilela e, caso este recuse, seu cunhado Manuel Vilela, sendo estes os membros mais influentes da família Vilela.
22/12/1802 - Ana Maria de Araújo Vilela volta a casar, desta vez com José Roiz Vasquez, natural da Galiza, residente em Bujões. Trata-se, afinal, de José Rodrigues Vasques, padrasto do futuro Padre Domingos Ribeiro de Araújo e que viria a ser o padrinho dos primeiros quatro filhos deste (3 raparigas e um rapaz) e de Maria dos Remédios! Mais um enigma esclarecido!






Casamento em Bujões, no dia 22 de Dezembro de 1802, de José Rodrigues, filho de Francisco Vasques Rodrigues, do reino da Galiza (Ourense), com Ana Maria, viúva que ficou de Manuel António Ribeiro.



UM PADRINHO PROTECTOR
O famoso padrinho, com o nome completo de José Rodrigues Vasques, ao apresentar-se no batismo dos filhos de Maria dos Remédios , sendo padrinho de quatro, estava afinal a prestar um serviço à mulher, mãe do Padre Domingos Ribeiro de Araújo, situação essa absolutamente compreensível, a partir do momento em que se confirma esta ligação familiar. No fundo, a mãe protegeu as fraquezas humanas do filho, o então Padre Domingos Ribeiro de Araújo.
O padrasto limitou-se, desse modo, a fazer o mesmo, tentando defender e circunscrever o conhecimento dos atos praticados pelo seu enteado, porquanto os padres não podiam ser pais legítimos, mas  muitos deles não se importavam de pecar!
José Rodrigues Vasques era membro influente da Irmandade das Almas, e este acontecimento não se enquadrava na pureza da fé e nos deveres que a Igreja defendia para os seus membros, mas que haja quem atire a primeira pedra!



A VIDA NA PRESEGUEDA

A Presegueda e Vilarinho dos Freires sempre foram locais de residência de muitas famílias nobres, da altura. Como já dissemos e documentámos, o Padre Domingos Ribeiro de Araújo não foi integrado em nenhuma paróquia, vivendo sob a proteção de Dona Delfina Leonor Pereira da Mesquita, que o considerava como seu CAPELÃO. Nessas circunstâncias especiais, não são muitos os atos documentados em que interveio, sendo certo que o documento mais antigo que localizámos respeita ao seguinte batizado em que ele representa os padrinhos - Dona Delfina e seu marido, Capitão-Mor da Presegueda- assinando o registo respetivo, datado de 12 de Maio de 1829, em Vilarinho dos Freires.





Registo de batismo de Delfina, filha natural de Ana Felícia, com indicação de que o Padre Domingos interveio como Procurador daqueles dois personagens importantes da Presegueda.


Entretanto, por diversas vezes o Padre Domingos Ribeiro de Araújo se deslocou a Bujões onde foi padrinho de várias celebrações, das quais destacamos os seguintes, apesar de haver muitas mais:
18/7/1825 - Batismo de uma criança a quem foi dado o nome de Domingos, filho natural de Mariana Alves, sendo padrinhos o Reverendo Domingos Ribeiro e Ana Vilela (sua mãe).
23/5/1827 - Batismo de uma criança a quem foi dado o nome de Maria, filha de Manuel Joaquim e Maria Joaquina. Padrinhos: Reverendo Domingos Ribeiro e Ana Maria Vilela (sua mãe).
9/1/1828 - Casamento de José Gomes, de Borbela, com Mariana Marques, de Bujões. Testemunhas: Os Reverendos Padres José Joaquim da Silva Barbosa e Domingos Ribeiro de Araújo. Primeiro documento em que assina com o apelido Araújo.
Seguiram-se outros actos do mesmo género quer antes, quer depois da ligação do Padre Domingos a Maria dos Remédios. Referimos, de novo, os seguintes documentos pelo significado que comportam:
28/2/1845 - Baptismo de Delfina Comba, filha de António Rodrigues Comba e Teresa Maria : Foram padrinhos o Padre Domingos de Araújo e Dona Delfina Leonor Pereira da Mesquita, do lugar da Presegueda, tendo tocado a baptizada em sua representação José Rodrigues Vasquez (padastro do Padre Domingos)



Batismo de Delfina Comba



22 de Abril de 1846Batismo de JOSÉ, filho de José Alves Cardeal e de Dona Ana Bernardina. Padrinhos : José Alves Ribeiro, de Vila Real e MARIA DOS REMÉDIOS, residente em Bujões.


Batismo de JOSÉ, filho de António Alves Cardeal e Dona Ana Bernardina
 


Este documento tem relevante significado pois comprova que Maria dos Remédios já residia em Bujões em 22 de Abril de 1846, e que, pouco mais de um ano decorrido, em 4 de Julho de 1847, seria baptizada em Galafura a sua primeira filha - FILOMENA.
Entretanto, ocorreram mais os seguintes factos em que interveio o Padre Domingos e que também entendemos dever realçar:
27/2/1846 - Presença no cartório em Canelas como testemunha do Dr. José Dias Torres, natural de Torre-Sebroza-Paredes-Penafiel, numa escritura de compra e venda, sendo os vendedores da Presegueda.



 
Pequena parte da escritura de 27/2/1846, realizada em Canelas



Registo  respeitante ao Óbito, ocorrido em 12 de Fevereiro de 1849, na Presegueda, de Dona DELFINA LEONOR PEREIRA DA MESQUITA, viúva do Capitão-Mor daquela localidade MANUEL ANTÓNIO DA MESQUITA E CASTRO.
Um mês depois nasceria em Bujões a 2ª filha de Maria dos Remédios e do Padre Domingos. Com a morte de DONA DELFINA, provavelmente até um pouco antes, terá certamente terminado a proteção que o Padre Domingos usufruiu durante largos anos como seu Capelão privativo .
  


VOLTANDO A CANELAS
Poucas dúvidas restarão de que a  circunstância   de ter sido abandonada na RODA da Igreja de Canelas, em 22 de Dezembro de 1829, uma menina que acabaria por ser batizada com o nome de Maria dos Remédios se trata de um ato considerado sem 
perdão, sem ponta de humanismo e, por conseguinte, fortemente merecedor de censura por ser  altamente reprovável. 
Porém,  infelizmente,  o mesmo era  nesses tempos tão banal, tantas eram as crianças abandonadas nas Rodas das Igrejas da região, e por todo o lado, que neste caso especifico da Maria dos Remédios, por se ter tratado de uma encenação, nem motivo nos resta para grandes críticas.
Canelas era então concelho, mas não passava de uma localidade de dimensão modesta. Porém, as vinhas e socalcos do Douro são e sempre foram imagem de rara beleza, mas no silêncio da noite esse drama enorme do abandono de crianças indefesas é uma chaga que ainda hoje perturba e não poderá nunca ser esquecida espalhando-se de norte a sul de Portugal e por esse mundo além.
 A Igreja de Canelas tinha um Rodeiro, o responsável da Roda, que recolhia as crianças e as entregava ao cuidado da ama de serviço.
Nesta data de 1829 e muitos anos antes, JOÃO AZEVEDO e sua mulher ANA MARIA DO CARMO, ou a sua sobrinha EULÁLIA DO SACRAMENTO, ou outros, tinham aquela nobre missão de acolher, dar carinho e alimentar tantas e tantas crianças, vítimas inocentes desse fenómeno cruel que envergonha todos os seus autores  e  a humanidade.
Em Canelas, na RODA da sua Igreja, foram abandonadas desde 9/6/1822 a 22/12/1829, o número impressionante de 120 crianças. Destas, 99 tiveram como padrinho de batismo o rodeiro João Azevedo e isso só por si é suficiente para sublinhar a bondade das gentes de Canelas que nada tinham a ver com a situação que era originada por pessoas estranhas de outras paragens.
Saliente-se, por fim, que naquele período, nunca o padrinho indicado no batismo de Maria dos Remédios, António Cardoso de Lemos, alguma vez foi padrinho de outra criança. Estranho, sem dúvida.
Quem era então António Cardoso de Lemos? Segundo dados documentais, era Capitão, e procedia ao registo das escrituras notariais (escrivão da Administração de Canelas) conforme se poderá comprovar em inúmeros documentos, como estes:




Batismo de Maria dos Remédios, com anotação manuscrita por António Cardoso de Lemos que assinou como padrinho, mas diz apenas chamar-se António Cardoso. A ama é Ignácia Maria e não Maria Ignácia.
Dona Antónia Teles terá sido aqui ajudada por seu irmão Afonso Botelho, residente na Presegueda, bem cerca de Canelas e terá contado com a ajuda de membros da família Canavarro e/ou Lacerda, sobretudo os militares de alta patente?


Anotação manuscrita no livro do Cartório Notarial por António Cardoso de Lemos e respetiva assinatura, semelhante à do documento acima transcrito. Não existem dúvidas de que se trata da mesma pessoa que se voluntariou para padrinho de Maria dos Remédios.



Nesta parte final de uma escritura e em muitas outras, realizadas em Canelas, consta a indicação de que António Cardoso de Lemos era Capitão. Como militar deveria conhecer bem outros militares que possam ter ajudado neste caso em que, cada vez é mais evidente que
 Maria dos Remédios passou apenas na Roda da Igreja de Canelas para efeitos de batismo e já tinha sítio para onde ir. António Cardoso de Lemos também conhecia Afonso Botelho, irmão de Dona Antónia e muito melhor conhecia as famílias importantes de Canelas, como os Lacerda, Amaral, etc...
E não se pode esquecer que em 24 de Janeiro de 1839 faleceu o emérito Tenente General António de Lacerda Pinto da Silveira, de Canelas, tendo no seu filho General Lourenço de Lacerda Pinto da Silveira um outro oficial militar de mérito, sendo que o filho mais velho, Alexandre de Lacerda, morreu na batalha de Salamanca.


 ENTRETANTO... ALGUMAS LIGAÇÕES 
          

Aos 22 dias do mês de Janeiro de mil oitocentos e quarenta e oito, no ludar da Presegueda, na Capela de Nossa Senhora dos Remédios, do Illº Afonso Botelho de S.Payo e Sousa, desta freguesia de Nossa Senhora das Neves de Vilarinho de Freires  ... tendo como testemunhas o Exmo Senhor Lourenço de Lacerda Pinto da Silveira, Moço Fidalgo e Cavaleiro da Casa Real e Exma Dona Rosa Margarida Guedes de Mansilha...

Ao casar sua filha na Capela da Casa Grande, que ainda hoje existe, designada como Capela de Nossa Senhora dos Remédios, comprova-se a ligação do irmão de Dona Antónia Teles- Afonso Botelho- ao General Lourenço de Lacerda Pinto da Silveira, de Canelas.
O apelido Remédios, de Maria dos Remédios, só pode ter a ver com esta ligação à Casa Grande ? O recurso à Roda de Canelas também nos parece ter forte explicação, pois era possível esconder tudo sem dar nas vistas e sob proteção dos amigos, militares, logo poderosos, sobretudo nessa época de guerra civil. E os amigos servem para as ocasiões... 
E a propósito de amigos, aqui ficam dois documentos comprovando que os Generais Filipe Canavarro e António de Lacerda Pinto da Silveira eram bem conhecidos, sendo o primeiro deles pai de Cipriano Canavarro, que chegou pelo menos ao posto de Capitão na hierarquia militar e que foi um homem conceituado de Sabrosa.O segundo era pai do General Lourenço de Lacerda.







 
       5/9/1823 - O  Marechal de Campo António de Lacerda Pinto da Silveira substitui no cargo o Brigadeiro Francisco José da Costa Amaral, tendo este que apresentar-se,  em Lamego, ao Tenente General Filipe de Sousa Canavarro.




UMA ESCRITURA SINGULAR
Nesta escritura realizada em 26 de Fevereiro de 1891, na Estrada, a 1 km de Bujões, em casa do Dr. Domingos Abílio Pinto Barreiros, que está ligado à família Lacerda, compareceriam como outorgantes para uma doação dos bens existentes em nome de MARIA DOS REMÉDIOS, seus filhos, genros e nora. Desse modo, singular e inequívoco, fica confirmado que além dos bens deixados aos filhos pelo Padre Domingos, também Maria dos Remédios tinha alguns bens em seu nome. Ela não sabia escrever nem assinar e determinou que iria ficar em casa da filha solteira, Elvira da Natividade, ficando os filhos com a incumbência de lhe pagarem uma importância mensal. Dona Maria dos Remédios, nota-se, tinha o apoio da família na sua totalidade e o facto de a escritura se ter realizado na Estrada e não no Notário, em Canelas, demonstra que as relações com a família Barreiros/Lacerda eram diferenciadas e assim iriam continuar futuramente.




    


 









Prédios doados: 
Regada de Cima 
Regada de Baixo 
Sapateiro 
Cálculo da doação: 120.000 reis a cada um dos 5 filhos, partilhando as três propriedades em 5 partes. 
Contrapartidas
Pagamento à doadora de 50.000 reis de dívidas que tinha. 
Funeral com hábito e caixão e ofício de corpo presente. 
25 missas, em dois anos. 
Uma importância diária de 100 reis entregue à mãe por todos os filhos, subindo para 150 caso ficasse incapacitada fisicamente. 
Continuaria a viver em casa da Elvira da Natividade. 

Nota:
Só não sabiam assinar a doadora, Dona Maria dos Remédios, e Teresa Angélica, tendo sido representadas por António Lopes Messias e José Rodrigues de Azevedo. 



ALGUNS AVANÇOS...OU RECUOS...
Todos os que em tempos estiveram envolvidos nesta investigação, e foram muitos, sempre partiram do princípio que sendo Dona Antónia Telles natural de Sabrosa, a sua propagada ligação a um membro da família Canavarro teria que ser forçosamente alguém daquela Vila, uma vez que falar em família Canavarro era falar em Sabrosa, tal o prestígio que então usufruíam e que ainda hoje se mantém. Mas, com surpresa, acabei de ler um documento que me chegou às mãos, escrito por um filho do Padre Ismael, Eurico António de Araújo Vilela, já falecido há uns anos, e que diz o seguinte: 

" No dia 13(sábado) de Abril de 1974, quando estive de visita ao meu irmão Professor Carlos José de Araújo Vilela, .... conversámos sobre a genealogia da nossa família, do lado paterno: 
eu falei-lhe se nós descendemos do BARÃO DE ARCOSSÓ... 
Prontamente me respondeu que sim. Pois fala-se muito do assunto, eu queria ter a certeza.(...) 
Na carta que recebi do nosso primo Doutor José Araújo de Figueiredo, que exerce o professorado no Liceu de Alexandre Herculano-Porto, que me escreveu em 17 de Junho de 1988, a dado momento, no 4º parágrafo, escreve o seguinte: A parte que agora interessa, começa com o nosso bisavô paterno (que foi Padre, que se ligou a uma Senhora de Vilarinho dos Freires, creio que é da família Canavarro. Ignoro os seus nomes e os seus ascendentes..." 


QUEM FOI O BARÃO DE ARCOSSÓ?
Será lógico que perante o texto escrito pelo já falecido filho do Padre Ismael José de Araújo Vilela,nos questionemos sobre quem era o Barão de Arcossó. Vejamos a página da Wikipédia em que se referem a ele :
Pedro de Sousa Canavarro foi filho de Francisco José Machado de Sousa Canavarro e de sua segunda mulher, Sebastiana Joaquina Eufrásia Machado Pinto Vaía de Miranda. O seu pai era fidalgo da Casa Real, por sucessão e 2.º senhor do morgadio de São José de Arcossó, na freguesia de Arcossó, nos arredores de Chaves.

Destinado a seguir uma carreira militar, assentou praça a 20 de Agosto de 1783, com apenas 11 anos de idade, como cadete do Regimento de Cavalaria n.º 6, estacionado em Chaves. Naquele Regimento foi sucessivamente promovido a alferes em 22 de Novembro de 1792, a tenente em 3 de Dezembro de 1796, a capitão em 17 de Novembro de 1808, e a major em 28 de Março de 1812. Durante este período participou activamente na Guerra Peninsular.

No ano de 1813, alegando doença, foi reformado do Exército Português, situação que manteve até 1823, ano em que obteve a sua reintegração no serviço activo, voltando a ser colocado no Regimento de Cavalaria n.º 6, em Chaves. Nesse mesmo ano foi promovido a tenente-coronel. Atingiu o posto de coronel em 9 de Julho de 1827, sempre no Regimento de Cavalaria n.º 6.

Aderiu ao ideais liberais, tendo participado activamente no movimento político-militar desencadeado pela Belfastada, o que o obrigou a procurar refúgio na Galiza, de onde seguiu para o depósito de forças liberais acantonadas em PortsmouthInglaterra. Daí seguiu as forças exiladas a caminho da ilha Terceira, onde chegou em 1830.

Em Angra, foi nomeado comandante da respectiva guarnição depois da partida para Ponta Delgada do grosso das forças liberais que preparava a expedição militar que levaria ao desembarque do Mindelo. A 25 de Abril de 1832 foi nomeado governador militar da cidade de Angra e dos seus fortes, tendo assumido a 24 de Agosto daquele ano o comando das forças liberais que ficaram estacionadas nos Açores após a partida da expedição liberal para o Porto. Foi comandante militar dos Açores até 12 de Março de 1833, data em que foi transferido para a cidade do Porto, ficando ali adido ao estado-maior das forças liberais.

25 de Julho de 1833 foi graduado em brigadeiro, recebendo a 6 de Agosto daquele ano o governo das Armas do Douro, cargo que manteve até 29 de Março de 1834.

O último cargo que exerceu foi o de presidente da comissão criada para liquidar as dívidas aos militares e empregados civis do Exército, que exerceu entre 23 de Agosto de 1834 e 10 de Outubro de 1835.

Pedro de Sousa Canavaro foi agraciado com o título de Barão de Vila Pouca de Aguiar por decreto da rainha D. Maria II de Portugal, datado de 1 de Outubro de 1835. Por sua solicitação, o título foi mudado para Barão de Arcossó, também por decreto de D. Maria II, datado de 2 de Dezembro de 1835. Nenhum dos seus filhos terá utilizado o título. Foi também cavaleiro da Ordem de Avis e da Ordem da Torre e Espada.

Vida familiar

Pedro António Machado Pinto de Sousa Canavarro casou em 23 de Fevereiro de 1802 com Luísa Maria Slessor, filha do marechal de campo escocês John Slessor, que então ao serviço de Portugal comandava o Regimento de Cavalaria de Chaves, com quem teve a seguinte descendência:

Títulos









O Barão de Arcossó, faleceu em Chaves em 13/5/1836



Chegados a este ponto, constata-se que ainda falta muito caminho para encerrar o círculo da investigação. De facto esta hipótese do Barão de Arcossó, ou de Vila Pouca de Aguiar, não deixa de ser curiosa, porque se trata de um Canavarro, militar, que andava por aquelas bandas. Mas onde estaria por volta de Março de 1829, altura em que foi gerada Maria dos Remédios? Vamos tentar saber!...


NOVOS DADOS
Como este assunto tem todos os motivos para um tema de telenovela, aqui deixamos mais alguns dados que não deixam de ser curiosos e alguns até podem representar mais um pequeno avanço. Comecemos pelo Barão de Arcossó, que um dos filhos do Padre Ismael admitia ser o militar envolvido com Dona Antónia Teles e pai de Maria dos Remédios. Vejamos os factos que desmentem esta hipótese: 
O então Coronel Pedro de Sousa Canavarro, não estava em Sabrosa em 1829 uma vez que fugiu para Inglaterra em 19 de Janeiro de 1829, no último paquete, e desembarcou na cidade de Angra do Heroísmo em 7 de Março de 1829, sendo em 13 de Abril nomeado chefe da Polícia Militar local. 
Ora, Maria dos Remédios, tudo leva a crer ter sido gerada em Março de 1829, uma vez que foi batizada em Dezembro desse ano na Roda de Canelas.

Os documentos que juntamos comprovam, a nosso ver, o que anteriormente deixamos escrito.

Folha de salários do Coronel Pedro de Sousa Canavarro





Documentos do processo militar do Barão de Arcossó. Ele ter-se-á refugiado numa nau francesa, seguindo para Inglaterra e daí rumou a Angra do Heroísmo- Açores, onde chegou a 7 de Março de 1829, sendo nomeado chefe da Policia militar daquela cidade em 13 de Abril de 1829. 
Chegados aqui, com base naqueles documentos, só resta uma hipótese... a de que Dona Antónia também estivesse refugiada em Plymouth ou em Angra... mas a que propósito?



UMA FAMÍLIA NOBRE
O pai de Dona Antónia Teles era militar, como eram quase todos os nobres da época. José Dionízio Teles de Castro e Aparício Rolim Van Odick era casado com Dona Ana Lúcia Pinto da Mesquita e Morais Sarmento Guedes. Casaram em Vilarinho de São Romão em 20 de Abril de 1798, sendo este o 2º casamento de Dona Ana Lúcia, que tinha filhos do primeiro casamento.

José Dionísio e Dona Ana Lúcia tiveram vários filhos e filhas, entre os quais Dona Antónia Teles. 

Em 2 de Abril de 1829 fizeram uma escritura de doação ao filho Francisco Teles Van Odick Pinto da Mesquita, cadete do Regimento de Cavalaria 10, em Chaves, para que o mesmo tivesse as condições para ser promovido a Oficial. Será que enquanto andavam a tratar do futuro militar do filho se distraíram com a filha? 

Note-se outro dado desconhecido: Na relação de vereadores da Câmara Municipal de Vila Real, de 1828 a 1834 (reinava Dom Miguel), consta o nome de José Dionízio Teles Castro Aparício, mas não se sabe ainda onde e quando faleceu.

Na sua casa de Sabrosa existia Oratório privado e até aí se realizou um casamento que foi confirmado pela diocese de Braga.
Uma pergunta poderá ser feita por simples curiosidade - Quem era mais sangue azul, os Van Odick ou os Canavarro? Sem dúvida que estes últimos porque até membros da família real portuguesa apadrinharam o batismo de filhos do Tenente General Filipe Canavarro (por exemplo de Dona Maria Carlota).
Mas, também não podemos esquecer que José Dionízio Teles de Castro Aparício Van Odick foi padrinho do seu casamento. No fundo, todos eles tinham sangue da cor normal -vermelho!








     Guerra Civil Portuguesa, também conhecida como Guerras LiberaisGuerra Miguelista ou Guerra dos Dois Irmãos foi a guerra civil travada em Portugal entre liberais constitucionalistas e absolutistas sobre a sucessão real, que durou de 1828 a 1834. Em causa estava o respeito pelas regras de sucessão ao trono português face à decisão tomada pelas Cortes de 1828, que aclamaram D. Miguel I como rei de Portugal. As partes envolvidas foram o partido constitucionalista progressista liderado pela Rainha D.ªMaria II de Portugal com o apoio de seu pai, D. Pedro IV de Portugal, e o partido tradicionalista de D. Miguel I de Portugal e ainda o Reino Unido, a França, a Espanha e a Igreja Católica.
Lista do Presidente e Vereadores no período de 1828 a 1834
                                 
Referência ao Oratório Privado da casa dos Van Odick.

Entretanto, quer o pai, quer a mãe, obtiveram diversas honras por parte do Rei de Portugal, à data era Dom Miguel, como consta da Gazeta de Lisboa, um  jornal que publicava as noticias da corte, para além do que se passava em Portugal e no mundo.
Não se sabe, após a derrota de Dom Miguel, com a ascensão ao trono por seu irmão Dom Pedro IV, o que teria sucedido às pessoas aqui focadas que se envolveram na guerra civil que devastou o nosso país nesse período.


Gazeta de Lisboa de 18/4/1829

Gazeta de Lisboa de 10/7/1829

Gazeta de Lisboa de 15/8/1831



Esta última notícia tem um significado muito importante porque a honra de usarem medalhas com a Real Efígie de suas Majestades (o Rei e a Rainha) foi concedida ao casal Van-Odich e a todos os filhos e até a um sobrinho, mas a filha DONA ANTÓNIA TELES ficou de fora.!!! Palavras para quê... Nessa altura, já ela tinha sido mãe de Maria dos Remédios e, certamente, terá sido essa a causa de ter sido colocada de lado!
Ao indicar o nome do sobrinho, José Pinto de Queiroz Serpa e Melo, constatámos que este era genro do casal Van Odick (ou Odich) porque era casado com Dona Maria Teles, irmã de Antónia Teles, em cuja companhia esta deveria viver por expressa indicação do irmão Afonso Botelho, quando este fez uma doação para sua subsistência. No entanto, como a irmã Maria Teles faleceu na Cumieira em 12 de Abril de 1853, Dona Antónia Teles passou a viver em Vessadios em casa da irmã Dona Albertina Teles. 
Aliás, voltando à noticia da Gazeta de Lisboa,  e aos filhos do casal Van Odich, assinale-se que dos 7 filhos que tiveram, só um deles, António, nascido em 1805, faleceu dias depois sem receber os santos óleos do batismo. 
Portanto, restando seis filhos, todos eles, com exceção de Dona Antónia Teles receberam aquela graça real. De resto, mesmo ao filho Joaquim, que andava há anos em "uma loucura e frenesim", aquela graça foi solicitada e concedida.
Entretanto, a família Van Odich, para além do sucedido com a filha Dona Antónia Teles, foi atingida pelos seguinte acontecimento trágico, com a morte de dois filhos quase no mesmo dia:

30/1/1833 - ÓBITO de Dona ANA TELES DA MESQUITA

    Óbito de JOAQUIM TELES DE CASTRO, aos 2 de Fevereiro de 1833





CONHECER ALGO MAIS
Dos personagens que fazem parte desta história, encontrámos mais alguns dados sobre o padrinho do batismo de Maria dos Remédios- António Cardoso de Lemos- do Padre que presidiu à cerimónia - Padre Jerónimo Pires - de uma outra Maria dos Remédios, criada protegida pelo General António de Lacerda, de Canelas, este, sim, um caso que dá que pensar... Ou seja, iremos publicar esses dados em seguida, para que a história fique mais rica, mas sem que o circulo se encerre...
António Cardoso de Lemos: Já dissemos que não nos parece que tenha sido padrinho de batismo de Maria dos Remédios, por mera casualidade.
Vivia em Canelas pelo menos desde 1821, onde era ajudante do Cartório.
Embora não lhe coubesse manuscrever os registos paroquiais, mas sim aqueles que diziam respeito às escrituras realizadas no Cartório, ele também manuscreveu alguns (poucos) registos de batismo de crianças abandonadas na Roda de Canelas, mas padrinho só aparece uma vez. Era Capitão da 3ª Companhia do Batalhão de Voluntários Realistas de Vila Real, mantendo por isso, certamente, boa relação com os militares de alta patente de Canelas, como era o caso do General António de Lacerda Pinto da Silveira e filho.
De resto, o irmão de Antónia Teles, Afonso Teles, era Tenente naquele mesmo Batalhão.
António Cardoso de Lemos, nasceu em Nogueira e ali faleceu. Em 1833 foi transferido para Cinfães, para Capitão-Mor, conforme despacho do rei Dom Miguel. Essa a causa porque deixou Canelas. Aliás, teve algumas baixas, por doença, confirmadas pelo Cartório Notarial onde trabalhava, tendo falecido em 1841.





Declaração de encerramento do livro de escrituras notariais por António Cardoso de Lemos

Nogueira- 1841 - Registo de óbito de António Cardoso de Lemos


Atestado de 1832 confirmando que o Capitão António Cardoso de Lemos se encontrava doente. Natural de Nogueira, trabalhava no Cartório de Canelas.


Ano de 1833 - DOM MIGUEL nomeia António Cardoso de Lemos como Capitão da primeira Companhia das Ordenanças da Capitania-Mor de Cinfães




Padre Jerónimo Pires - Foi nomeado sacerdote em 1822, sendo natural de Poiares. Assinou vários registos de batismo, sobretudo de crianças abandonadas na Roda, sempre que havia impedimento de Frei Manuel Maria Barros, pároco da Igreja ou de Frei João de Santa Rita que o costumava substituir. Antes de falecer, ainda jovem, com apenas 39 anos, revoltou-se contra certos procedimentos da Igreja, talvez por doença do foro mental. A certidão de óbito que abaixo juntamos é elucidativa a esse respeito.




Candidatura a sacerdote em 1822- Inquirição de genere.
                        

O Padre Jerónimo Pires, que batizou Maria dos Remédios, foi excomungado e absolvido quando faleceu em 6 de Setembro de 1839. Seria curioso encontrar o seu testamento.



GENERAL ANTÓNIO DE LACERDA PINTO DA SILVEIRA



                              

Aos 24 dias do mês de Janeiro de 1839, faleceu em Canelas o General António de Lacerda Pinto da Silveira.
No registo acima estão indicadas certas disposições do seu testamento, mas não é transcrito na íntegra.
Em determinada altura, refere o seguinte:

"Disse mais que seu filho Lourenço seria obrigado a ter na sua companhia a MARIA DOS REMÉDIOS, filha de Maria do Carmo de Mancilha desta Vila, sustentando-a e dando-lhe a quantia de vinte mil reis em cada ano para se vestir e calçar e quando, por qualquer incidente, a não queira ter na sua companhia, promoverá a sua entrada em um Convento, como secular, dando-lhe mensalmente sete mil e duzentos enquanto for viva, e se conservar no Convento, e quando por motivo de moléstia justificada se veja precisada a sair do Convento cessará a referida pensão e em tal caso impõe ao indicado seu filho a obrigação de tratá-la com a caridade cristã. Disse mais que recomendava ao seu mencionado filho não abandonasse sem meios de subsistência a José de Mancilha, filho da mesma Maria do Carmo de Mancilha que tinha vindo desde tenra idade criado a bem fazer desta Casa, esperava que assim continuasse a ser..."





Conclusões: Maria do Carmo de Mancilha era criada na casa dos Lacerda, assim como seu filho José de Mancilha. Neste caso o apelido Mancilha não correspondia a pessoas da mesma familia dos Mansilha, de Peso da Régua, gente poderosa. Aliás, um dos membros desta família casaria com Affonso Botelho de Sampayo e Sousa, irmão de Dona Antónia Teles.

O grande enigma é o aparecimento de uma Maria dos Remédios, alegadamente filha de Maria do Carmo, e já com o destino traçado de ir parar a um Convento bastando para isso a vontade do General Lourenço de Lacerda. Sem dúvida que o General António de Lacerda deixou determinações bem precisas para que ela fosse protegida.

Será que o nome de Maria dos Remédios dado à criança introduzida na Roda de Canelas e cujo registo foi efetuado por António Cardoso de Lemos e batizada no mesmo dia de uma outra criança também abandonada na Roda, a quem deram também o nome de Maria do Carmo, (coincidências!) têm alguma relação com esta história?



Maria do Carmo e Maria dos Remédios receberam os Santos óleos no mesmo dia, com registos manuscritos pela mesma pessoa e pelo mesmo Padre. António Cardoso de Lemos apresenta-se como padrinho de Maria dos Remédios, ele que não foi padrinho de mais ninguém!




Apesar de tantas pesquisas efetuadas, não encontrámos nenhuma Maria dos Remédios registada em Poiares como sendo filha de Maria do Carmo Mancilha, nem nada encontrámos do irmão José, designadamente quando e onde nasceram e faleceram.

Vejamos, apenas, mais um testamento em que se refere o nome de Maria do Carmo e de seu filho José Mancilha:


Testamento de José Carvalho, em 1826, que nomeia testamenteiro Lourenço de Lacerda Pinto da Silveira, seu amo, que lhe deve dinheiro mas não indica quanto, é quanto ele disser, e a quem Maria do Carmo Mancilha também deve. Todavia, ele deixa em testamento ao filho José de Mancilha mais dinheiro do que aquele que a mãe lhe devia.


Primeiro casamento em 1789

Afonso Botelho de Sampaio e Sousa - Nasceu em Sabrosa em 29 de Março de 1792, fruto do casamento de Lourenço Botelho de Sam Payo e Souza e Dona Ana Lúcia (ou Luzia) Pinto da Mesquita de Morais Sarmento.
                           
                     


Registo de batismo de Afonso Botelho de Sampayo e Sousa




Dona Ana Lúcia (ou Luzia) viria a casar em 2ªs núpcias com José Dionísio Teles de Castro Aparício Van Odick, ou Odich
Tiveram vários filhos entre os quais Antónia Teles.





Afonso Botelho era dono da Casa Grande na Presegueda e figura politica influente no reino, tendo sido deputado às Cortes. Era muito respeitado sobretudo por virtude da sua acção relacionada com os problemas do vinho do Porto e agricultura da região demarcada do Douro. Na Presegueda e na Casa Grande terá vivido Maria dos Remédios, sua sobrinha, filha enjeitada por Dona Antónia Teles, de quem era irmão por parte da mãe.



Afonso Botelho faleceu em 22/1/1868 (Jornal do Porto)



Jornal do Porto- 31 de Janeiro de 1868







vai continuar ...???






Nota:

O estado actual das averiguações é este:
Alguma vez o círculo será fechado?



JVPaula

10 de Janeiro de 2014
















9 comentários:

  1. Boas descobertas Sr. José Paula.
    Mais umas lúzinhas foram acendidas mas desconfio que o fecho do círculo ainda esteja longe.
    Esta família não brinca em serviço, a cada cavadela lá vem uma « minhoquinha».

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  2. Que história emocionante e com tantos detalhes que eu desconhecia! Obrigada por partilhar a história da minha família!!
    Ana Costa Ferreira - Filha de Norberto Comba da Costa e neta de Maria Constança Comba

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  3. Prezado Senhor José Ventura Paula,

    Meus sinceros parabéns pelo excelente trabalho de pesquisa! Sou trineto de Afonso Teles do Nascimento, de Vessadios, e, portanto, tetraneto de António Lopes Esteves do Nascimento e Dona Albertina Teles Pinto da Mesquita, irmã da "ainda misteriosa" Dona Antónia Teles... A história dos familiares que permaneceram aí é realmente emocionante e intrigante!!!

    Cumprimentos,

    Charles de Freitas, do ramo de Pouso Alegre-MG/Espírito Santo do Turvo-SP, Brasil

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    1. Obrigado Sr. Charles de Freitas pelo seu comentário. Para este blogue é um momento inesquecível que tenhamos chegado ao contacto com um descendente da família de Dona Antónia Telles, de Vessadios, moradora em Sabrosa à data dos acontecimentos que ainda hoje são um mistério que bem gostaríamos de ver esclarecido. Na nossa troca de correspondência que aos poucos vai esclarecendo pequenos pormenores, sentimos que vamos poder contar com a sua preciosa ajuda para irmos mais longe e desde já aqui deixamos um registo de gratidão por sabermos que desde jovem se entusiasmou com a pesquisa dos caminhos de seus antepassados seguiram aí no Brasil, muitos deles com vidas bem diferentes das que antes tiveram em Vessadios.
      Grato e um grande abraço
      José Ventura Paula

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  4. Assim como o sr. Charles comentou, também sou descendente do casal Antonio Lopes Esteves do Nascimento e Albertina Teles por meio de seus filhos que se estabeleceram na atual região sul do estado de Minas Gerais, Brasil. Venho procurando há um tempo por mais informações sobre o passado de minha família. Será que alguém por aqui consegue me ajudar em algumas dúvidas que tenho?

    De qualquer forma, parabéns pela pesquisa e pelo blog muito bem escrito. Foi surpreendente encontrar um registro tão detalhado de pessoas "comuns" que viveram há mais de 150 anos.

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  5. Solicito por favor,que os leitores do blogue que comentam como anónimos, deixem escrito o seu nome por debaixo do texto. Há dias apareceu-me no meu email pessoal, que também consta em qualquer sítio do blog, um senhor do Brasil a quem remeti vários elementos sobre a familia de António Lopes Esteves do Nascimento, dizendo que anda em busca dessa familia de que é descendente. Eu enviei para ele, poucos dados, tenho muitos mais, mas remeti o local onde viveu depois de ele e toda a familia partirem para o Brasil e creio que até o local onde morreu no Estado de Minas Gerais, bem como os locais onde se instalaram seus filhos e Dona Albertina Telles, sua mulher. Nem sequer acusou a receção e muito menos agradeceu com a simples palavra "obrigado". Sendo assim, dificilmente prestarei qualquer ajuda porque deve haver condutas e principios de educação e ética nesta actividade que obriga a muitas horas de pesquisa Eu nunca cobrei nada por qualquer informação, apenas que digam obrigado, nada mais. Se tem dúvidas, caro leitor, primeiro identifique-se nesta página e depois envie pelo meu email jvpaula@netcabo.pt dizendo o que necessita. Pode ser que eu o possa ajudar, porque o passado é de todos ...

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  6. Boa noite. Chamo-me Deodato Rodrigues Costa e sou natural da Freguesi de Vilarinho Dos Freires.

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  7. Boa noite. Chamo-me Deodato Rodrigues Costa e sou natural da Freguesia de Vilarinho dos Freires. Frequentei a Escola Primária da Presegueda, tendo como minha Professora D Carlota Pena. O meu Pai nasceu na Presegueda em 1930 e eu nasci na Granja em 1955. Gostaria de obter leitura sobre os temas apresentados, pois casualmente acedi a um anuncio da venda da casa, na Presegueda e encontrei este manancial. Fiquei contentíssimo, mas preciso de mais, pois parece-me que há uma primeira parte. Muito obrigado. Respeitosos cumprimento.

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    1. Caro Sr. Deodato Costa. Obrigado por se interessar por estes temas publicados há vários anos no meu blogue Bujões Memórias e Personagens a que já acrescentei o Bujões Memórias e Personagens 2 e Bujões Memórias e Personagens 3. A história ainda com o círculo por fechar de MARIA DOS REMÉDIOS, abandonada na Roda da Igreja de Canelas e que foi recolhida na Casa Grande da Preseguesa, onde depois se apaixonaria ainda jovem pelo Padre Domingos Ribeiro de Araújo, este natural da minha aldeia de Bujões, de quem teve 5 filhos, acabando todos eles por nascer em Bujões, onde o Padre Domingos e Maria dos Remédios viveram até morrerem. O grande mistério é sobre quem foi, afinal, a mãe e o pai de Maria dos Remédios, tudo levando a crer que tenham sido Dona Antónia Telles e um membro da família Canavarro, nobres de Sabrosa, pois faziam parte das gentes que estavam autorizados a beijar a mão do rei, de então, vivendo bem perto uns dos outros. Dona Antónia Telles juntamente com a irmã , esta de nome Dona Albertina Telles, acabaram por residir na Póvoa-Vessadios ( ainda lá está a casa) , antes de ambas, juntamente com o marido de Dona Albertina e todos os filhos (muitos) e criados acabaram por partir para o Brasil onde em Minas Gerais alguns deles chegaram a figuras importantes, como grandes fazendeiros. Isto tudo dava um bom filme ou telenovela. Se acaso tiver algum dado, para além daqueles publicados na Página do Padre Domingos que já leu ou na Página de Maria dos Remédios, uma vez que o Sr. nasceu na Granja e aí, antigamente, esse lugar teve muita relevância na história da povoação da Presegueda, ainda hoje com as suas casas senhoriais, algumas já em ruínas. Já visitei isso tudo em busca de fazer luz sobre esta história, mas pouco de decisivo encontrei. Fique com o meu email se acaso quiser esclarecer algo jvpaula@netcabo.pt
      Cumprimentos
      José Ventura Paula

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